A ética aristotélica inicia-se com o estabelecimento da noção de felicidade. Neste sentido, pode ser considerada uma ética eudemonista por buscar o que é o bem agir em escala humana, o agir segundo a virtude. A felicidade é definida como uma certa atividade da alma que vai de acordo com uma perfeita virtude. Partindo dessa definição, faz-se necessário um estudo sobre o que é uma virtude perfeita e, assim, faz-se necessário, também, o estudo da natureza da virtude moral. Como a virtude moral é consistida por uma mediedade relativa à nós, analisaremos o conceito de mediania (mediedade ou justa-medida) assim como aparece no livro II de Ética a Nicômaco.
Virtude Moral e Intelectual
Aristóteles define a virtude moral como disposição – já que não podem ser nem faculdades nem paixões – para agir de forma deliberada e a disposição está de acordo com a reta razão. A virtude moral consiste em uma mediania relativa a nós. Após estabelecer a virtude moral como uma disposição – héxis – ou seja, como se dá o comportamento do homem com relação às emoções, há ainda a necessidade de que a diferença específica entre virtude moral e virtude intelectual seja explicitada.
Segundo o Estagirita, o que distingue as duas espécies de virtude é a mediania. A virtude intelectual é adquirida através do ensino, e assim, necessita de experiência e tempo. A virtude moral é adquirida, por sua vez, como resultado do hábito. O hábito determina nosso comportamento como bom ou ruim. É devido ao hábito que tomamos a justa-medida com relação à nós. Logo, a mediania é imposta pela razão com relação às emoções e é relativa às circunstâncias nas quais a ação se produz.
Nenhuma das virtudes morais surge nos homens por natureza porque o que é por natureza não pode ser alterado pelo hábito e “a natureza nos dá a capacidade de recebê-las [as virtudes], e tal capacidade se aperfeiçoa com o hábito” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1103 a 26). Virtudes e artes são adquiridas pelo exercício, ou seja, a prática das virtudes é um pré-requisito para que se possa adquiri-las. Sem a prática, não há a possibilidade de o homem ser bom, de ser virtuoso. Tornamo-nos justos ao praticarmos atos justos pois “toda a virtude é gerada e destruída pelas mesmas causas e pelos mesmos meios” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1103b 5-6). Já que as virtudes morais são vistas como produto do hábito, consequentemente são tomadas como inatas. Ao considerar as virtudes morais como adquiridas, há uma implicação de que o homem é causa de suas próprias ações, responsável por seu caráter – por esse motivo a ação precede e prevalece sobre a disposição. Está na natureza das virtudes a possibilidade de serem destruídas pela carência ou pelo excesso e cabe à mediania preservar as virtudes morais e também diferencia-las das virtudes naturais. Pode-se notar, pois, que a ideia de justa-medida preconiza que qualquer virtude é destruída pelos extremos: a virtude é o equilíbrio entre o sentir em excesso e a apatia. Portanto, fica evidente que a virtude busca pela harmonia – e esta é dada pela razão entre as emoções extremas. O meio-termo é experimentar as emoções certas no momento certo e em relação às pessoas certas e objetos certos, de maneira certa. Isso é a mediania, é a excelência moral.
Mediania ou Meio-Termo
Ao propor a mediania como gênero de virtude moral, como regra moral, o Estagirita retornou à sabedoria grega clássica porque esta indicava a mediania como a regra de ouro do agir moral. A mediania tem o aspecto de não silenciar as emoções, mas buscar a proporção e, devido a essa proporção, a ação será adequada sob a perspectiva moral e, concomitantemente, a ação ficará ligada às emoções e paixões. De acordo com Aristóteles, a posição de meio é o que tem a mesma distância de cada um dos extremos. Com relação a nós e sempre considerando nesse viés, meio é o que não excede nem falta. Aqui fica evidente que o “meio” se dá em relação ao agente pois “não é único e o mesmo para todos” (ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, II, 1106 a 34).
A virtude moral deve possuir a qualidade de visar o meio-termo por se relacionar com as paixões e ações. Nas ações e paixões, por sua vez, existem a carência, o excesso e o meio-termo. As ações e os apetites não tem, em sua natureza, algo que determine sua tendência para a falta ou para o excesso. Por sua vez, a tendência à mediania expressa a virtude moral, expressa a excelência da faculdade desiderativa da alma. O que nos faz tender à mediania é a educação e a repetição de atos bons e nobres. Por conseguinte, o hábito é desenvolvido e visa a mediania. Esta, por sua vez, é determinada por um princípio racional (LOPES, 2008). Pode-se notar que, para Aristóteles, a virtude é uma espécie de mediania já que visa o meio-termo e que é vista como disposição de caráter que tem relação com a escolha dos atos e das paixões.
A justa-medida é determinada por um princípio racional próprio do homem dotado de sabedoria prática. Assim, ao buscar pela essência da virtude, por sua definição, Aristóteles define-a como mediania, ou ainda, “a mediedade é a quididade da virtude”(ZINGANO, 2008, p. 23).
O Estagirita afirma que sua investigação acerca da virtude não é de cunho exclusivamente teórico, mas a investigação se dá com a finalidade de que os homens tornem-se bons – pois cabe à mesma ciência, ou seja, à Ciência Política, tanto o conhecimento das virtudes quanto a função de fazer com que os homens se tornem bons. Logo, busca-se a definição de virtude e sua aplicação nos fatos particulares.
A virtude é um meio-termo entre dois vícios. Um desses vícios envolve o excesso e o outro vício envolve a carência. Logo, cabe à virtude e à sua natureza visar a mediania tanto nas ações – embora algumas ações não permitem um meio-termo por seus próprios nomes já implicarem, em si mesmos, maldade – quanto nas paixões. Um dos extremos – entre os quais a mediania se localiza – é mais equivocado que o outro. Deve-se, portanto, estar atento aos erros para os quais tem-se maior facilidade para ser arrastado. Pode-se saber para qual erro se é arrastado ao se analisar o prazer e o sofrimento acarretado pelo mesmo. Ao descobrir para qual erro se tende mais, deve-se ir em direção oposta, ao outro extremo para que se chegue ao estado intermediário e, consequentemente, afastar-se do erro.
Em todas as coisas, o meio-termo é digno de ser louvado, conclui Aristóteles ao fim do Livro II. Contudo, ora deve-se inclinar no sentido do excesso, ora da falta com a finalidade de se chegar mais facilmente ao que é correto e ao meio-termo.
No decorrer deste trabalho, expusemos como a noção de mediania se apresenta no livro II de Ética a Nicômaco e sua relação intrínseca com a noção de virtude moral, sendo que esta tem a mediania como essência.
Referências bibliográficas:
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2012.
AUBENQUE, P. A prudência em Aristóteles. São Paulo: Discurso Editorial, 2008.
LOPES, M. O Animal Político: Estudos Sobre a Justiça e Virtude em Aristóteles. São Paulo: Singular, 2008.
REALE, G. História da filosofia: Filosofia pagã e antiga, v. 1. São Paulo: Paulus, 2003.
ZINGANO, M. Aristóteles. Ethica Nichomachea I 13-III 8: Tratado da Virtude Moral. São Paulo: Odysseus, 2008.
gostei muito isso me ajudou bastante
Olá Tafnys!
Ficamos muito felizes que o texto tenha lhe ajudado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Ótimo, tambem me ajudou muito! Obrigada
abraço
Olá Junia!
Fico feliz que o texto tenha lhe ajudado!
Volte sempre!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Perfeito. Passa uma definição de virtude perante a ideia de Aristóteles de uma forma bem clara.
Olá Ricieri!
Obrigado!
Ficamos felizes que tenha gostado do texto!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Estou fazendo uma pesquisa sobre Aristóteles para um trabalho de Ética e Responsabilidade social. Seu conteúdo ajudou a desenvolver meu trabalho.
Por isso não só gostei como foi bem útil.
Olá Ricieri!
Legal que o texto tenha lhe ajudado!
Todos do site ficam muito felizes com a notícia!
Se puder nos ajudar na divulgação para amigos e e conhecidos, agradecemos!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Adoro ler suas páginas,todo esse cabedal de conhecimentos maravilhosos!
Olá Magda!
Obrigado!
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Atenciosamente,
Felipe de Souza
Claro e objetivo. Gostei muito.
Olá Ana!
Ficamos felizes que tenha gostado!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
O QUE MORAL PARA ARITOTELES?
Olá Adriana,
O texto procura responder justamente à esta pergunta. A palavra moral e a palavra ética possuem certa semelhança. No tempo de Aristóteles, o termo correto é ética.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Qual a situação da Constituição de desvios financeiros em organizações, e qual a comparação com a pespequitiva moral de ARISTOTELES?
Olá Rodrigo,
Esta pergunta está além do escopo do texto e exige uma elaboração própria, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
esse texto me ajudou muito com a Prova de Filosofia do meu Colégio, muito obrigado, agradeço!
Olá Dimitri!
Fico muito feliz que tenha ajudado!
Obrigado por deixar seu comentário!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
eu gostei muito do seu texto me ajudou bastante tirando algumas duvidas.
Olá Mileica!
Ficamos muito felizes que o texto tenha sido útil!
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Gostei mas fiquei sem perceber muito bem o que era a Ética.
necessito com urgencia de um texto;;A DIFERENÇA ARISTOTELES E A ETICA DO CUIDADO
Olá Ruth!
Infelizmente não temos nenhum texto com este tema.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Obrigado.
preciso saber por que aristoteles se influenciou pela ética pela filosofia fora isso o texto é muito bom
Olá Ramon,
A ética é uma das grandes áreas da filosofia e, justamente por isso, seria impossível que um filósofo da grandeza de Aristóteles não se interessa por ela, ok?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Boa Noite.
Poderia me ajudar na pergunta abaixo?
Obrigada!
Qual é a relação direta entre a ética e a razão?
O texto superou todas as expectativas que tinha quando comecei a ler a primeira linha e foi bom a interpretaçao do pensamento de Aristóteles para a uma linguagem mais atualizada, muitos obrigado!
Olá Juliana,
Esta é uma pergunta muito ampla, ok?
Fica bastante difícil de respondê-la. Você está pensando nesta relação em um filósofo?
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Adorei seu texto, me ajudará muito a repassar p meus alunos estes valores.obrigado