Este texto é continuação do texto: Psicologia e Deus. No texto anterior, falo sobre a relação existente entre os conhecimentos e práticas da psicologia e as religiões.

Continuando, é necessário também conhecer as formas pelas quais a psicologia já abordou os fenômenos religiosos. Ou seja falaremos neste texto à respeito da interpretação que a psicologia já deu aos fenômenos religiosos. De modo geral podemos falar em 4 tipos de posicionamentos, de acordo com o teórico ou abordagem.

1) Aceitação fundamentalista: embora seja pouco usual, existem perspectivas que acreditam literalmente nos conhecimentos advindos de uma fonte religiosa em particular. Por exemplo, encontramos teóricos que, assim como no fundamentalismo, acreditam em cada palavra de uma dada revelação, seja da Bíblia ou de outra fonte. Mas este posicionamento é raríssimo, embora possa ser encontrado.

Encontraremos tal posicionamento mais em profissionais que são religiosos e, até desrespeitando o Código de Ética profissional da psicologia, podem utilizar uma determinada corrente religiosa como fundamento para a sua prática.

2) Negação ateísta: embora também seja pouco comum, existem perspectivas que partem do princípio de que não existe nenhuma realidade transcendente. Ou seja, não existem Deus, deuses, céu, inferno, alma, espírito… enfim: desacredita-se de tudo o que transcende os fenômenos observáveis.

Do mesmo modo que na perspectiva anterior, encontraremos tal abordagem dos fenômenos religiosos mais em alguns profissionais do que em uma teoria em particular.

3) Interpretação redutiva: esta talvez seja o posicionamento mais frequente, não só na psicologia como também nas ciências humanas em geral. Quando há o estudo de um determinado fenômeno religioso, o pesquisador analisa o que encontra e interpreta reduzindo o conteúdo à uma determina teoria.

Por exemplo, na sociologia (para alguns teóricos) a religião é apenas um fenômeno social. Para algumas correntes da psicologia e da psicanálise, a busca por algo transcendente advém de determinados conteúdos inconscientes.

De forma que veremos esta interpretação mais frequentemente não só na prática de alguns profissionais, como também em teorias importantes. A psicanálise freudiana, por exemplo, pode ser entendida como uma interpretação redutiva quando tenta analisar a religião. O behaviorismo também, na medida em que interpreta os comportamentos religiosos como comportamentos governados por regras.

O que é importante entender aqui é que os fenômenos religiosos são analisados cuidadosamente (o que não acontece nas duas primeiras perspectivas), mas a explicação ou interpretação final reduz o conteúdo religioso à uma outra coisa que não a religião em si.

4) Interpretação não-redutiva: nesta forma de compreender os fenômenos religiosos, os pesquisador analisa os dados, fontes e experiências religiosas mas não reduz os fenômenos à uma determina teoria ou explicação. Procura interpretar da melhor maneira possível os conteúdos existentes, sem reduzi-los e com o mínimo de pressupostos possível.

Vejo que a psicologia analítica de Jung e também o humanismo de Carl Rogers e Maslow encontram-se nesta forma de interpretação. Estas psicologias também analisam cuidadosamente as experiências originais, mas não reduzem o conteúdo à uma determinada explicação em particular.

Concluindo, escrevi este texto procurando explicar um pouco mais sobre como interpretações diferentes dos fenômenos religiosos são possíveis. Estas 4 formas de interpretação não ocorrem somente na psicologia, como aparecem também em outras ciências humanas como a sociologia, antropologia ou história.

A psicologia, enquanto prática profissional e enquanto lugar de produção de conhecimentos sobre os processos mentais, emocionais e comportamentais deve procurar entender os seus pressupostos teóricos, pois de outra forma interpreta não só os fenômenos religiosos como também outras áreas da vida a partir apenas de seu próprio ponto de vista.

O que é importante frisar, novamente, é que a psicologia, enquanto prática, se baseia sempre no sigilo profissional e na busca de soluções para os sofrimentos, bem como no desenvolvimento de novas habilidades e perspectivas.

De forma que mesmo que possamos apontar determinados pressupostos ou criticar determinadas abordagens como interpretações redutivas, devemos entender que elas nasceram de um esforço para compreender o ser humano, e enquanto uma forma de conhecimento aplicada também auxiliam os pacientes em suas demandas específicas.