O estranho caso da homeopatia Título Original: The Strange Case of Homeopathy
Texto: Michael Castleman
Tradução: Felipe de Souza
Em 1994, a cientista da computação Amy Lansky de Portola Valley, na California, começou a se preocupar com seu filho de dois anos. Max conhecia o alfabeto e podia ganhar de adultos em jogos de memória, mas ele raramente falava e, a despeito de ouvir normalmente, parecia não entender a linguagem. Na pré-escola ele evitava as outras crianças. A sua principal forma de comunicação era cutucar os outros com seu dedo. Consequentemente, os responsáveis da escola recomendaram a Lansky para fazer uma avaliação psicológica com seu filho.
O diagnóstico foi autismo, uma desordem neurológica e comportamental para a qual não existe remédio conhecido. Mas Lansky recusou a acreditar que Max possui uma doença sem tratamento. Sua busca por uma resposta a levou à homeopatia, a arte da cura criada no século XVIII que está gozando de grande popularidade por causa do interesse dos americanos por terapias alternativas. A homeopatia envolve tratar as doenças com doses extremamente diluídas de plantas, substâncias animais e compostos químicos, em cuja medicação final não resta sequer uma molécula da substância diluída. A homeopatia desafia as leis conhecidas da ciência, para não mencionar as do senso comum. Mas estudos rigorosos mostram que ela pode funcionar.
Em um julgamento na Alemanha, o tratamento homeopático para vertigo superou os remédios farmacêuticos tradicionais; em Harvard, sujeitos com sérios danos cerebrais mostraram uma grande e significativa melhora com o tratamento homeopático do que com placebo. E os remédios homeopáticos também foram estudados em conjunto com os tratamentos convencionais. Em uma caso de diarréia infecciosa, um estudo na Universidade de Washington mostrou que crianças que receberam a reidratação padrão contendo água, acuçar e sal e mais o remédio homeopático, recuperaram-se depois de dois dias e meio – um dia e meio mais cedo do que aqueles que receberam apenas a reidratação padrão.
“Eu acredito que uma nova ciência vai explicar como a homeopatia funciona”, diz Ellen Feingold, uma pediatra de Wilmington, Delaware, que deixou a medicina convencional para praticar a homeopatia. “Mas a pesquisa não é a minha área. Eu quero curar os pacientes. Como médica tradicional eu apenas suprimia os sintomas. Agora, com a homeopatia, eu realmente as curo”.
“Os críticos da homeopatia dizem que porque os mecanismos de sua ação não podem ser explicados, ela não pode funcionar”, diz Michael Carlston, um médico de Santa Rosa, California, que combinou a medicina padrão com a homeopatia por mais de 30 anos. “Mas isto é hipócrita. A aspira foi usada durante 90 anos, até que sua eficácia fosse explicada – e nenhum médico a criticava”.
Medicina Estranha
Um pouco depois do diagnóstico de seu filho, Lansky encontrou um artigo em uma revista sobre tratamentos alternativos para crianças com problemas de comportamento.
O acunpunturista de Lansky o indicou para o homeopata John Malnychuk. Ele não realizou um exame físico, nem ordem testes diagnósticos. Ele apenas perguntou algumas questões, incluindo muitas que os médicos considerariam irrelevantes. Ele explorou o desejo de Max por leite, sobre o sono espasmódico, sobre manchas em seus olhos e sua intensidade, sua doçura, sua teimosia, sua dificuldade de descansar e seu antiperfeccionismo.
Então, utilizando livros de referência, ele buscou substâncias que produzem os mesmos efeitos em pessoas sadias. Este é o princípio fundamental da homeopatia, a Lei do Semelhante. É a ideia de que a doença pode ser curada por substâncias – plantas, animais ou minerais – que evoquem os mesmos sintomas naqueles que estão bem. Melnychuk decidiu dar a Max Carcinosin, um tratamento feito com uma infinitesimal quantidade de tecido humano com câncer.
“Existem dois tipos de remédios homeopáticos” explica Melnychuk. “Alguns tratam sintomas; por exemplo, arnica funciona bem para músculos contundidos. E também existem os remédios ‘constitucionais’, que combinam com a personalidade do paciente. Max parece se enquadrar no perfil do Carcinosin, que inclui sintomas de perfeccionismo, inquietação e agitação, dificuldades para dormir e desejo por leite”. Entretanto, Melnychuk alerta que não é para toda criança autista tomar Carcinosin. “Você tem que adaptar o remédio para os traços únicos do paciente”.
Lansky ministrou um pouco de Carcinosin na água e deu para Max a cada manhã. Dentro de duas semanas, ela notou mudanças: “A fala de Max melhorou, e ele parecia mais consciente socialmente”. Nos dois meses seguintes o caminho em direção à melhora continuou.
Talvez não esteja fazendo nada
A homeopatia foi desenvolvida durante o século XVIII, um tempo em que os médicos sabiam muito pouco sobre as doenças. Eles tratavam a maior parte das doenças com laxantes e sangrias. Tais tratamentos eram chamados “medidas heróicas”, mas o heroísmo estava no lado dos pacientes, muitos dos quais sofriam mais destas intervenções do que da própria doença.
Um médico do século XVIII, Samuel Hahnemann, se tornou tão aborrecido com a medicina heróica que fechou o seu consultório. Mas Hahnemann não rejeitou a medicina. Ele ficou impressionado com a cinchona, uma casca de árvore sul-americana que foi o primeiro tratamento efetivo para a malária. Em 1790, Hahnemann ingeriu cinchona e ficou frio, pálido, ansioso e com sede – todos sintomas da malária. Esta experiencia o levou a postular a Lei dos Semelhantes.
Hahnemann testou centenas de substâncias em si mesmo – plantas, partes de animais e compostos químicos, incluindo sal, zinco, ouro e cravos-de-defundo – catalogando o seus efeitos. A seu tempo, reabriou seu consultório mas prescrevia apenas remédios homeopáticos. Continue lendo: Homeopatia e Autismo – Parte 2
Será que você pode citar as referências dos ditos estudos?
Luis Felipe, coloquei o link para o artigo original, em inglês, no início do texto. No título: The strange case of homeopathy. Lá você encontrará as referências.
O texto, importante notar, não é de minha autoria, mas foi publicado em um dos sites de psicologia em lingua inglesa mais acessados, que é também um revista – Psychology Today.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe, entrei no site e apenas encontrei o mesmo texto. Não encontrei nenhuma referência ao estudo alemão, ou ao estudo realizado em Harvard. Você saberia me dizer onde estão?
Fui tratado com homeopatia toda a minha infância, para algumas coisas era bom, para outras não. Nos dois casos, os tratamentos eram longos, por isso estranho muito a afirmação que produziu mudança significativa em duas semanas em um caso de autismo. Esse tipo de afirmação é perigosa porque aumenta a expectativa de pais com crianças autistas, o que pode pressionar ainda mais a criança quando ela não atinge os resultados que eles esperam.
O estudo também não leva em consideração a possível mudança na atitude da mãe com relação à criança ao começar a se preocupar com o tratamento dele, nem levanta a hipótese do diagnóstico de autismo ter sido equivocado. Ele também compara a homeopatia apenas com o placebo, nunca com outro tratamento alternativo ou convencional.
Luis, realmente o texto original não publica as referências as quais são citadas no texto. Esta é uma falha do autor. Infelizmente não tenho também como rastrear tais referências.
Mas em princípio, toda e qualquer área da medicina deveria ser mais conclusiva (em especial a psiquiatria) a respeito das possíveis milagrosas curas de remédios como prozac, por exemplo.
Do mesmo modo, vejo como problemática toda a medicalização psiquiátrica das doenças mentais. No novo DSM-5, inclusivo o luto é tratado como uma doença. Abrindo porta para a criação de novíssimos remédios, caríssimos, sem testes conclusivos, prontos para serem vendidos…
A homeopatia, ao menos, se não curar, não possui efeitos colaterais…
O que você acha?