As questões epistemológicas, ou seja, que centram-se ao redor da cientificidade e de seu campo de possibilidades, são fundamentais para as ciências humanas, porque é através delas que seus objetivos podem se legitimar.

Com o surgimento das ciências humanas no final do século XIX, que caracterizam-se por ter o homem como princípio de análise ao mesmo tempo em que como objeto de conhecimento, é necessário indagar por sua positividade não através dos modos com os quais a filosofia tradicionalmente questionou a física ou a química; antes, a crítica da cientificidade das ciências humanas tem que estar ligada às ciências que lhe servem de espelho e à própria filosofia, nas diferenças e interstícios dos campos de constituição intrínsecos a cada uma destas áreas.

Foucault, em seu livro As palavras e as coisas (2000), apresenta o que chama arquelogia das ciências humanas.

Neste ele descreve o campo epistemológico da modernidade:

“deve-se representar o domínio da epistéme moderna com um espaço volumoso e aberto segundo três dimensões. Numa delas, situar-se-iam as ciências matemáticas e físicas (…); haveria, em outra dimensão, ciências (como as da linguagem, da vida, da produção e da distribuição de riquezas) (…) Quanto à terceira dimensão seria a da reflexão filosófica” (Foucault, 2000, 479).

De acordo com Foucault, as ciências humanas, não são inseridas (ou o são apenas no interstício destes saberes) nesse triedo epistemológico. Ou seja, por um lado apresentam formulações que estão ligadas principalmente às ciências da linguagem (linguística), da vida (biologia) e da produção e distribuição de riquezas (economia). Ligadas ou pela formulação teórica sobre tais campos, buscando sua legitimidade ao incorporar dados destas três ciências ou pelo empréstimo de modelos teóricos próprios daquelas.

Por exemplo, pode-se citar entre muitos outros, a sociologia funcionalista de Durkheim, que toma de empréstimo da biologia a noção de função para explicar o organismo social, seja de sociedades simples como as tribos aborígenes ou complexas como sociedades contemporâneas capitalistas.

De forma que, as ciências humanas se fundam em um processo de reduplicação da linguística, da economia e da biologia, constituindo uma posição “metaepistemológica” ou “hipoepistemológica” (Foucault, 2000, 491).

As ciências humanas frequentemente apresentam a tentativa de subordinar as ciências à sua própria área. Assim, poder-se-ia citar esta tentativa por parte da psicologia ou da antropologia ou mesmo da história, de achar que é o seu objeto ou o conhecimento produzido em sua região de saber que legitima as ciências.

Entretanto, as ciências humanas é que carecem de legitimação positiva. Não pela precariedade dos conhecimentos produzidos, mas pelo modo como, epistemologicamente elas se arranjam no triedo do saber foucualtiano:  “deixando sempre a invencível impressão de fluidez, de inexatidão, de imprecisão” (Foucault, 2000, 491).

Referências Bibliográficas

FOUCAULT, Michel de. As palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2000.