Um mergulho nas relações humanas 

Livro publicado pela Wak editora – Dirceu Moreira


O Amor é ainda um assunto muito pouco explorado em nossa sociedade, exceto no que diz respeito à ótica do consumismo e do marketing. As referências que se tem sobre esse assunto, para grande número de pessoas são religiosos e muitos exemplos citados no cotidiano, vêm do avatara (descida da Lei) do ciclo de peixes, Jesus Cristo e outros Grandes seres que nem sempre têm representado suas idéias com a nobreza que deveriam ter. 


Parti do principio de que a palavra matemática cunhada na Grécia Antiga ou “Mathematikós” para se referir “àqueles que apreciam o Conhecimento” ou ainda “Aqueles que gostam ou estão dispostos a Aprender”, complemento pelo que disse o prof. Henrique José de Souza “ o homem não é sábio porque sabe, ele é sábio porque ama”. 


Veja abaixo a Descrição sintética dos tipos de amor, com sua relação na matemática. 


½ + ½ = ½ – Tipo café com leite 


Lembre-se, as pessoas não vivem o tempo todo este tipo, caso contrário ninguém suportaria e os relacionamentos se desfariam. Numa relação café com leite, os inteiros (café ou leite) cedem parte de si para o outro, mesmo porque para iniciarmos um relacionamento, às vezes é preciso abrir mãos de nossos paradigmas, crenças ou preferências. 


Neste tipo de relação, os dois cederam, porem o curioso é que não se somaram, além do mais um dos dois ficou em situação ainda pior, porque cedeu completamente, se anulou. Tudo é meio, inclusive esquisito. Pode ser uma manobra, uma manipulação do tipo, vestido em pele de cordeiro, só que depois do casamento digamos assim, o lobo aparece. Então o homem ou a mulher, se apresenta como inteiro, e neste sentido evolui para uma situação, onde 1+1/2 = 1. 


Positivamente, no tipo ½ + ½ , temos dois apaixonados onde tudo é lindo maravilhoso no outro, porque aquele nossa lado racional foi deixado de lado. O amor não é cego, porque nele está contida a sabedoria, que nos abre os olhos para entendermos que relação a dois é mútuo crescimento. 


Isto é comum no início de um relacionamento, tipo amor à primeira vista, encontro da alma gêmea, ou mesmo quando sentimos que a relação está se desgastando, e neste caso começamos a camuflar nossos defeitos e falhas para que estas não comprometam a relação. Como ninguém se segura o tempo, os dragões do inconsciente, que desejam ardentemente se manifestar, assim, esta relação corre o perigo de uma explosão, onde alguém pode desabafar: não tolero mais tantas falsidades! Não que estejam mentindo, é que este período de paixão tem que dar lugar ao amor, esta paixão tem que queimar a madeira para nascer o fogo sagrado do amor-sabedoria. 


Na relação de aprendizagem, o prof. torna-se ½ = humildade, para acolher aquele que é ½ o aluno em fase de aprendizado, neste caso ½ + ½ é = ½ + ½ . Sem a humildade, o educador torna-se prepotente e incapacitado para ensinar. 



1 + ½ = 1 – Dominação X Submissão 


Ninguém, enquanto ser humano, ou até mesmo as nações deram demonstração, em que o dominado se rebela contra o dominador, portanto, nos relacionamentos de casal acontece o mesmo. Percebo isso claramente no consultório de ambos os lados. Há uma fome muito maior do que a fome de alimentos, e que pode destruir a alma humana: é a fome de amor, de ser reconhecido (a), de ser amado (a) de nos sentimos importantes um para o outro. Este tipo de comportamento, pode levar a uma terceirização nas relações, ou melhor, leva à traição, uma forma inadequada de buscar o amor, quando gostaríamos de tê-lo daquela (e) que está ao nosso lado. Se uma mulher ou um homem aceita uma das duas posições (ou domínio ou submissão) e dizem que estão bem, ou se trata de uma relação patológica ou então o calculo matemático do amor não foi bem feito. No dia a dia dos relacionamentos estas posições podem assumir, situações passageiras ou situacionais. A matemática do amor nos conduz a aprender em um mar de rosas, ou em meio á tempestade. 


Na relação de aprendizagem, o prof. permanece ½ , para facilitar àquele que está crescendo para ser “1”. Neste caso o “1” resultante da soma de 1 + 1/2= 1, demonstra a humildade do educador ao permitir a seu aluno seguir o caminho da autonomia. Os valores de ética, disciplina e limites na criação pela família, são fundamentais para que o aluno reconheça e respeito seu professor (isto evita o bullying). 


1 + 1= 1 – Anulação/Subjugação Ou Dominador/ Dominador 


Quando uma relação deste tipo acaba, fica um vazio para ambos. A música, entre tapas e beijos, parece reforçar este tipo de situação. Existe o ditado popular que diz: falem mal, mas falem de mim. Não é o ódio que os mata, pelo contrário os mantêm juntos, porque o ódio é a força oposta do amor. O que mata mesmo é a indiferença, por isso estes tipos citados até agora mantêm muitos pseudos relacionamentos. 


O amor, deriva do latim, mor-mors que significa morte. Para matar esta morte de um relacionamento dos quais falamos até agora, só pode ser conseguido através do amor sabedoria. Amar sem sabedoria pode se tornar passional, superprotetor, ciumento, enquanto que a sabedoria nos dá a dimensão da compreensão, de pesarmos o que há de bem, bom e belo em cada ser humano, e valorizarmos estas qualidades e não apenas apontando defeitos. O lado positivo da questão, é que cada um saiba valorizar o outro do jeito que ele é, sem precisar anular o potencial dele, em detrimento do seu, então 1+1=1, nos faz ver que este resultado 1 é a forma de ser de cada um. Para que um casal possa viver bem nesta fase, basta saber acolher o outro no seu inteiro, porque na má-temática 1+1 é =1, mas na boa temática os resultados são outros: convivência harmônica. 


Romantizar as relações é fundamental, mas sem banalizar. Estes tipos descritos até agora e mais o seguinte são relações passionais e muitas mulheres (homens em menor número) já perderam suas vidas em nome deste amor banal. 


Na relação de aprendizagem, o professor vê seu aluno de = para =, ambos qualificam suas qualidades. Embora 1+1= 1, este resultado de 1, ainda é o aluno, no ato de aprender. Esta igualdade não pode ser de fachada e nem o prof. pode ser este “1”, caso contrário irá anular o potencial do seu aluno. Aqui, vale ressaltar a importância da educação que o aluno recebeu de sua família. 


1+1= 1+1 – Água com óleo isopor e água 


Esse é tipo de relação tem muito a ver com os tempos atuais onde a individualidade é muito forte. É o estilo do cada um na sua casa, cada macaco no seu galho, no meu varal não quero calcinha, ou no meu varal não quero cuecas. Casam-se, e podem até morar na mesma casa, mas em quartos ou camas separadas, alguns vivem em casas separadas mesmo. Os filhos embora dos dois, acabam ficando divididos. De qualquer forma este tipo não mistura, mas não anula. Aliás eles até se misturam, talvez fiquem uma semana juntos ou mais, até que um dos elementos (água ou óleo) começam a voltar ao seu estado natural. 


Conheço casais, na terapia ou fora dela, que dizem: vamos dar um tempo! Eles se dão o tempo, e depois voltam, e assim vão levando suas vidas. Pode até ser egoísta, cada um segue o seu caminho, mas é melhor do que os tipos anteriores, porque já podemos notar que houve progresso. Aqui a porta para terceirização está aberta. Água com óleo podem existir em determinados seguimentos das relações, por exemplo: futebol x novela x shopping e etc., onde cada um deve respeitar as preferências do outro. Quando o óleo se mistura à água, mesmo que por curto tempo eles ficam juntos, se apaixonam novamente, mas como o fogo da palha não queima madeira molhada, logo se separam, até que um dia de tanta palha em madeira molhada, tanto aquece que pega fogo. Podemos até entender estes pequenos momentos de separação, com o medo de amar e ser amado, porque isso requer que devemos morrer (amar) para se transformar. Não há perda no amor, há aprendizagem, mesmo que doa, ainda assim é melhor do que não amar e viver na solidão. 


Nesta relação de aprendizagem, o professor mantém a visão de “igualdade”. Agora o resultado de 1+1=1 +1, destaca-se a maturidade onde o educador x educando, compartilham de experiências. Se prof. x aluno, não respeitarem as opiniões um do outro, não haverá troca neste tipo de experiências, e sim apenas e tão somente, a imposição. 


1+1= 1+1+1 – ideal/realista ou equilibrante 


Para chegarmos a este tipo é preciso que tenhamos transformado os anteriores, mesmo porque o ser humano nasce sob a égide de uma lei universal citada pelo dr. Eduardo Alfonso: “tudo que existe leva em si imanente a tendência e a força para converter-se em algo Superior”. O homem não consegue fugir desta lei, porque de qualquer forma ele irá mudar, ou pelo amor ou pela dor, mas muda. Este quinto tipo é subproduto de tudo que vencemos nas etapas anteriores, tal qual a criança em suas etapas evolutivas, o amor também é assim. 


Existem os dois caminhos: o caminho da dor e do amor, porém grande parte da humanidade procura a dor, porque dizem que o amor dói, amar não vale a pena, a gente só perde, e coisas do gênero. Realmente não estão errados, o amor dói mesmo. Por que? Porque nós resistimos e porque o amor é sabedoria. O caminho da dor ainda continua sendo buscado por muita gente, quer seja a partir da imolação, quer seja negando um grande amor. O que há atrás disto? O medo. 


Porém não há saída para fugirmos de nós mesmo, assim, este tipo busca o caminho do equilíbrio. Busca em si e no outros os valores e qualidades e os potencializa. Pergunte-se: quantas vezes o seu marido levou lhe o café da manhã em sua cama nestes últimos…. ? Qual foi a ultima vez que declarou novamente seu amor por você? 


“O amor é o néctar da vida, que abre as pétalas da felicidade, banhadas por orvalhos da alegria”.Gabriel Henrique (11 anos). É importante lembrar que amor não tem idade. 


Nesta relação de aprendizagem, o professor, além de manter a visão de “igualdade”, cria uma relação de proximidade e gratidão, pela mutua aprendizagem. O resultado de 1+1=1+1 +1, espelha o verdadeiro papel da educação na relação professor x aluno, ou como disse o prof. Henrique José de Souza: transformar vida energia em vida consciência. 


Autor: Prof. Dirceu Moreira – 12/46 – Psicólogo, pedagogo, Dr. honoris causa em psicologia das relações humanas, palestrante, consultor em potenciais humanos na educação e RH, autor de 13 livros. 

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