Meu amor cresceu. Ainda ontem era um bebê. Fico lembrando dos primeiros dias, a gente ali se conhecendo, meu rosto sorridente e deslumbrado com tanta ternura. Era tão frágil, precisava tanto da minha atenção. Um descuido e podia ser fatal. Tudo era novo, diferente. Era preciso reaprender a andar, agora do lado de alguém. Coordenando os passos, ajustando a velocidade, para evitar tropeços um no outro. Era preciso aprender outra língua, ou melhor, criar outra língua. Os casais costumam ter um vocabulário muito próprio. Por vezes ridículo, é bem verdade, mas delicioso. Tudo é cercado de um arrepio, de uma descoberta, de uma dúvida. Os olhos passam a ser habitados por um brilho de expectativas, premissas, promessas…

E o primeiro corte? Como doeu. Parecia que nunca ia parar de sangrar. Que era o fim. Mas não. Aos poucos a gente se acostuma com o fato de que alguns cortes, alguns arranhões, fazem parte do amor assim como fazem parte da infância. São marcas do ajustamento. Logo passa e às vezes nem deixam cicatrizes. De tombo em tombo o amor vai crescendo. Vai ficando mais forte, mais independente. Exige menos cuidado para continuar existindo, embora sempre requeira atenção. É como filho criado. A gente ama, e muito, mas ele já não nos preocupa tanto como quando era pequeno. É possível deixá-lo atravessar a rua sozinho.

Talvez ele já não me faça rir tanto, como no começo. Mas vira e mexe surpreende por sua maturidade. Num dado momento acho que ele vai embirrar, fazer escândalo, e nada. Ele está sereno. Entende o meu lado. Conhece-me tanto que é capaz de me dar respostas que nem eu supunha. Então me espanto e digo: como é que você cresceu! 

Certo saudosismo pela mágica dos começos sempre fica guardado na gente. O começo é sempre um tempo de idealização, de suposição de algo que ainda não conhecemos e acreditamos ser perfeito. Somos de alguma forma, sempre felizes nos começos pela idealização. Mas só depois somos felizes de verdade, quando as máscaras já se desfizeram, quando já vimos o pior do outro, e ainda assim queremos ficar. Quando mostramos o nosso pior e o outro não nos deixou. A realidade do amor é essa: desfigurar a beleza inicial, forjada, e amar a realidade imperfeita do outro.

As paixões podem ser deliciosas. Um redemoinho que sacode a gente e faz vibrar os acordes adormecidos do nosso coração. Mas nada como o aconchego e a maturidade de um amor criado!

Kattlyn Pereira

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