Alguns psicólogos americanos defendem, atualmente, a criação de uma nova doença mental – o vício em internet. Esta nova doença teria as características de outros vícios, como o vício em drogas, jogo ou sexo. Outros psicólogos, por outro lado, criticam esta suposta doença.
Neste texto, vamos discutir o tema, apontando as duas posições: os que defendem a existência e até o tratamento para os viciados em internet (e, assim, haveriam, os viciados em facebook, twitter, jogos online, sites pornográficos, entre outros) e os que acham que esta nova doença não existe.
Todos nós conhecemos pessoas que não conseguem ficar nem um dia, talvez nem algumas horas sem acessar a internet e olhar as redes sociais, emails, blogs… A característica comum, deste suposto vício ou dependência, seria:
– compulsão (a pessoa não consegue ficar sem);
– tolerância (a pessoa precisa de mais tempo para ter a mesma satisfação)
– abstinência (com a ausência do uso, a pessoa apresenta sintomas de ansiedade, stress, desconforto, etc).
Estas seriam as principais características – que são comuns a todo e qualquer vício.
Há os que defendem a existência desta doença
De acordo com Kimberly S. Young, diretor do Centro de Recuperação para Vícios em Internet, “Os viciados em internet sofrem de problemas emocionais como depressão e desordens de ansiedade e frequentemente usam o mundo da fantasia da internet para escapar, psicologicamente, de sentimentos desprazerosos ou situações estressantes”.
É interessante notar que nos EUA já existem clínicas para tratar os viciados em internet – como podemos notar na citação de Kimberly S. Young acima.
Há os que defendem a não-existência desta doença
Outros psicólogos e psiquiatras criticam a criação de mais uma doença mental. Para estes, os comportamentos de alguém que seria viciado em internet já foram descritos e catalogados em outras doenças mentais. Com isso, não haveria a necessidade de outra doença para descrever o que já foi descrito, por exemplo, em transtornos de ansiedade.
Outra questão é que a internet é um meio e descrevê-la como estando relacionada a uma forma de doença específica abriria espaço para uma série de doenças relacionadas, como vício em telefone ou celular.
Nesse sentido, o vício em internet seria semelhante ao vício em comida, no qual a pessoa utiliza a comida (como um meio) para fugir ou escapar de seus sintomas de ansiedade, depressão ou outros, sem haver o vício em comida, em si.
Dizendo em outras palavras, considerar o vício em internet (ou o vício em facebook, por exemplo) um vício específico, diferente dos demais, seria confundir os dois campos de problema. Ou seja, confundir o meio através do qual um determinado vício se manifesta (internet, comida) com a doença que, seria, realmente outra (ansiedade, compulsão, etc).
Outra questão, e talvez a mais importante, é que a internet é atualmente utilizada em diferentes contextos, e cada vez mais, é essencial no trabalho das pessoas. Uma pessoa que trabalha na internet, e que fica 8 horas ou mais online, seria viciada em internet?
Utilizar o tempo de uso como critério é extremamente equivocado. Do mesmo modo como não consideramos alguém que trabalha com uma enxada como viciado em enxada, não podemos considerar alguém que trabalha com internet, viciado em internet.
Com isso, o tempo de uso seria descartado para dar lugar à função do uso.
Alguém que usa a internet durante longas e longas horas seria viciada se a função fosse para jogar um jogo online? Para ficar horas nas redes sociais como facebook, twitter, tumblr, orkut? Para ficar apostando ou vendo sites adultos?
Ou a função seria menos importante do que as caraterísticas de todo e qualquer vício: compulsão, tolerância e abstinência?
Na minha opinião pessoal, não devemos incluir mais uma doença mental no extenso levantamento feitos pelos americanos no DSM-IV.
Veja mais detalhes, aqui: Doenças Mentais
Sobre o DSM-V (o próximo volume a ser lançado) e as críticas que já estão sendo feitas, clique aqui: Carta aberta para o DSM-V
Em minha opinião, o critério para denominarmos uma doença mental como doença mental é o sofrimento – se ele é existente ou não. Nesse sentido, é até indeferente a existência ou inexistância do vício em internet.
A pessoa que utiliza a internet e se auto-intitula viciada em internet sofre com isso? Isso causa algum sofrimento para alguém que é do seu convívio? Para família, amigos?
Se causa sofrimento, podemos pensar em uma forma de acabar com o sofrimento. Se há dependência (leve, moderada ou grave) e essa dependência causa sofrimento, podemos começar a pensar em um problema a ser tratado – mas não em uma doença.
Enfim, é sempre útil lembrarmos da frase de C. G. Jung: “Qualquer vício é ruim, não importa se seja álcool, morfina ou idealismo”.
E porque qualquer vício é ruim? Porque, ao colocar a pessoa em um estado de dependência, há a privação da liberdade. E, sem liberdade, a vida se limita…
Leia também:
Olá !
Excelente artigo !!
Trabalho na internet, atendendo usuários de uma rede social e defendo a existência de um distúrbio, pois recebo diariamente relatos agressivos e exaltados de pessoas que entram em pânico se o site sai do ar ou apresenta problemas técnicos. Vejo isso porque a forma exagerada e desequilibrada com a qual se expressam é assustadora !
Alguns relatam que até mesmo durante as ceias de final de ano, pararam alguns minutos para ir verificar seus perfis… Isso quer dizer que afeta também o convívio social , entre outras coisas.
Sei de usuários que dormem apenas 3 ou 4 horas para poder ficar o restante do seu dia on line…já vi casamentos desfeitos e intolerância com as demais pessoas, tudo devido a internet… é muito triste que esta evolução tecnológica na comunicação provoque distúrbios nas pessoas, e como todo viciado, acreditam que é normal e não estão passando dos limites…
Além do trabalho, tenho um blog e perfis em diversas redes, mas procuro administrar meu tempo e não priorizar tanto este meio, deixando tempo também para atividades fora da internet, creio que com este cuidado estou me mantendo numa zona segura e saudável, utilizando esta ferramenta para o que é certo, diversão e aprendizado e não para tapar buracos internos ;)
Grande abraço e bom fim de semana !
Olá Samanta!
Muito interessante o seu comentário!
Bem, eu defendo a ideia de que o problema deve ser pensando a partir do sofrimento.
Podemos entender o vício através de vários ângulos como o tempo gasto na atividade (tempo cada vez maior), através de problemas ocasionados pela falta (abstinência) e assim por diante.
O que você apontou no seu comentário é justamente o aspecto da ausência da internet – a abstinência.
A internet é uma ferramenta (uma ferramenta incrível, claro) mas cuja ausência não deveria ser sentida de forma tão contundente.
Grande Abraço!
Muito bom mesmo esse artigo, é uma discussão muito interessante que deve ser ainda bastante discutido.
tenho lido muitos artigos a respeito desse tema. E tendo em vista isso resolvi adaptar três instrumentos sobre o uso compulsivo da internet, vícios e atitudes.
abaixo tem o link pra quem se interessar e poder me ajudar nessa pesquisa:
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dFhvMzlPcTJCV1I0czE0LWJtQWVSYkE6MQ
desde já agradeço a cooperação neste estudo.
oi.
adorei o artigo porque stou tendo o problema a dois anos e nao sei como reverter a situacao,mais dicas,por favor.estou aguardando