Para falarmos de Pulsão de Morte devemos lembrar um pouco da história da psicanálise, a partir já de Freud. Para tanto, devemos lembrar da polaridade pulsão do eu X pulsão sexual e, posteriormente, pulsão de vida X pulsão de morte.

No começo de sua obra, Freud acreditava que o inconsciente era puro desejo, ia em busca do prazer no desejo – o famoso princípio do prazer. Este prazer era frequentemente contrário ao eu.

Pensemos em uma dicotomia:

Pulsão do eu (ou pulsão do ego) X Pulsão Sexual

Neste começo, Freud relacionava o princípio do prazer à sexualidade. Claro, a sexualidade entendida de uma forma ampla; não apenas o coito, a relação sexual propriamente dita.

Neste caso, a sexualidade englobaria, por exemplo, os fênomenos da transferência (em que o paciente crê no analista), o apaixonar-se, os conflitos amorosos…

Importante lembrar este ponto. Em psicanálise sexualidade é um conceito amplo – que não quer dizer imediatamente o ato sexual.

Contra a pulsão sexual havia a pulsão do eu ou pulsão de autoconservação. Enquanto a pulsão sexual impeliria o sujeito a se reproduzir, a pulsão de autoconservação impeliria o sujeito a se proteger, a se defender, a manter a própria vida.

Portanto, o princípio do prazer expresso pela pulsão sexual se contrapõe à pulsão de autoconservação, à pulsão do eu.

Como o que não é o eu, neste começo da psicanálise, é o inconsciente, o inconsciente é representado pelo princípio do prazer.

Posteriormente, no famoso livro Mais além do princípio do prazer, Freud entendeu que o princípio do prazer não era único, não representava o todo da dinâmica do inconsciente.

Havia um mais além, um algo a mais do prazer.

E o que é? A pulsão de morte.

Neste segundo momento – que coincide com a construção da ideia de Id, Ego e Superego – Freud entende a psique como sendo constituída por outra polaridade:

Pulsão de vida X Pulsão de morte

É esta polaridade, até certo ponto, que nos permitirá entender a polaridade entre o desejo e o gozo na psicanálise lacaniana.

O desejo para Lacan aproxima-se do conceito de desejo em Freud.

Para saber mais sobre o desejo, clique em O início da análise na Psicanálise

Enquanto que a ideia de gozo (juissance) aproxima-se da ideia de mais além do prazer, de Freud.

Podemos pensar, para começar, em um exemplo:

Imagine uma mulher, bonita, inteligente, com boas condições financeiras, estrutura familiar tranquila.

Em sua vida de vinte e poucos anos, começa a namorar. Apaixona-se. O caso é que o objeto de sua paixão é um bandido. Um malandro, alguém que só lhe fará mal. O malandro bate nela, a maltrata, a xinga, a trai… e…ela continua com ele. Porque? Porque continua?Para responder à esta questão, porque ela continua, temos que fazer referência aos dois conceitos:

desejo X gozo(princípio do prazer) X princípio de morte

Mesmo o inconsciente não sendo lógico, racional, previsível, seria de se esperar que esta mulher jovem e bonita procurasse o prazer, o bem, alguém que lhe tratasse de forma boa, solícita…Seria lógico se pensarmos no princípio do prazer. O inconsciente buscaria apenas o prazer, apenas o que lhe desse satisfação. Mas como vimos, este não é o caso. Há aí um mais além do princípio do prazer, um gozo na psicanálise de Lacan, um desprazer que, mesmo sendo desprazer, satisfaz… É uma paradoxo, mas é o paradoxo do gozo. Continuaremos a explicação do conceito de pulsão de morte, juntamente com o conceito de gozo, em seguida. Aguardem.