2° Texto da Série sobre Timidez

Veja também: Timidez e Psicologia

Qual é a diferença entre a alegria e a felicidade? A paz e a tranquilidade? A raiva e o ódio? O medo e a adrenalina? Todos podem imaginar as diferenças, mas para o comportamentalismo ou behaviorismo temos que pensar na diferença entre as emoções, a partir do comportamento externo – ou seja – o que sentimos a partir do que fazemos.

O comportamentalismo é, obviamente, uma perspectiva da psicologia que tem o seu olhar voltado mais para fora (extroversão) do que para dentro (introversão). Por isso, é interessante eles olharem as emoções humanas a partir de fora, a partir da ação, e não a partir de dentro, dos órgãos internos ao organismo.

Existe uma dificuldade clara para o estudo da psicologia – como estudar as emoções? Como estudar emoções que estão escondidas no interior do corpo, ou, talvez, dentro da psique (da alma)?

Por isso mesmo, o comportamentalismo teoriza a respeito das emoções a partir do comportamento, do que vemos.

Para ficar bem fácil de entender, vamos imaginar uma cena.

Um sujeito que se considera tímido precisa fazer a apresentação de sua vida. Ele sente, minutos antes da apresentação, algumas sensações diferentes em seu corpo. Adrenalina? Medo? Entusiasmo?

Ele poderia classificar as sensações dentro do seu corpo. Poderia dizer que sente uma adrenalina incrível como se estivesse dentro de uma montanha russa. Que sente medo como se tivesse visto um fantasma. Entusiasmado como se tivesse ganhado na loteria…

As pessoas que estão vendo a apresentação também poderiam dizer uma série de coisas. Como se ele se comportou durante o tempo da apresentação?

Dizemos que o medo é a fuga, a coragem é o enfrentamento. Dizemos que ele teve coragem se olhou nos olhos do público, se falou com firmeza, se sua voz não se apresentou trêmula ou se suas mãos não estavam tremendo ao segurar um papel ou tablet.

Perceberam que o público faz a avaliação a partir do comportamento do sujeito? Se ele faz uma coisa, é classificado desta forma, se faz outra coisa é classificado de outra. Ou seja, as emoções que dizemos que o outro está sentindo são classificadas a partir do comportamento, do que é visível e observável.

Não temos como medir o número de batimentos cardíacos ou o suor nas mãos ou o rubor na face. E mesmo se tivéssemos instrumentos para medir as sensações experimentadas internamente pelo sujeito, não conseguiríamos fazer nenhuma distinção entre sentimentos que para nós são bem fáceis de dizer a diferença.

Se tivéssemos instrumentos ou aparelhos para medir, não poderíamos dizer se o coração acelerou porque ele estava com medo ou porque ele estava entusiasmado ou porque ele estava com adrenalina – uma sensação agradável. Entenderam?

Uma mudança na sensação interna do corpo não quer dizer necessariamente uma emoção. Nós classificamos as emoções a partir do externo, a partir do comportamento – e, mesmo assim, em uma público de 20, 30 pessoas, cada um diria uma coisa da apresentação do sujeito que se considera tímido.

Uma técnica muito importante para quem quer desenvolver comportamentos mais desinibidos em público, é justamente não se importar com a reação do público. O que o público faz ou deixa de fazer não deve interferir no comportamento de quem está fazendo a apresentação.

Lembro de uma história que ouvi há um tempo atrás. Em uma apresentação pública, o palestrante observou um sujeito inquieto, que ficava se contorcendo e remexendo na cadeira, com uma cara de desgosto, como se estivesse achando a apresentação muito ruim.

Mas ele continuou passando sua mensagem. Afinal, estava lá para passar algumas informações para o público, não para ser avaliado por ninguém. A palestra acabou e o sujeito que se contorcia na cadeira, com cara de poucos amigos, foi falar com o palestrante. A primeira coisa que ele disse foi: – “Ótima palestra! Uma das melhores que já vi! O problema foi que não estou me sentindo bem, precisava ir ao banheiro, mas fiquei aqui para não perder nenhum minuto!”

Moral da história: o que vemos do comportamento dos outros e o que os outros veem do nosso comportamento nem sempre corresponde à emoção exata.

Com isso, devemos deixar de pensar no que o outro está pensando, e passar sempre que possível a nossa mensagem.