Autor: Lázaro Castro

Talvez muitos leitores do Psicologia MSN.com já tenham lido aqui no blog ou visto em outros lugares sobre algo chamado de “plantão psicológico”. Mas talvez tenham se perguntado: o que vem a ser esse plantão psicológico? O texto a seguir tenta trazer uma explicação geral sobre essa prática contemporânea da Psicologia.

 

O plantão psicológico surgiu como uma prática nos anos 60 no Instituto de Psicologia da USP, tendo sido idealizado pela psicóloga Rachel Lea Rosenberg com fundamentação teórica na Abordagem Centrada na Pessoa de Carl Rogers. A proposta era que houvesse uma forma de atender às pessoas que buscavam os serviços da clínica-escola de psicologia da Instituição, porém devido à grande demanda não conseguiam atendimento (Alves, 2009; Rebouças e Dutra, 2010; Tassinari, 2003).

 

À priori o termo “plantão” pode causar estranhamento, uma vez que costuma ser vinculado às práticas de enfermeiros e médicos em hospitais de urgência e emergência e não estando vinculado à ideia de psicologia. Wood (1999) esclarece sobre o vocábulo comentando que a palavra pode adquirir dois sentidos. 

 

No primeiro sentido, plantão deriva da palavra francesa “planton”, “uma linguagem militar para designar a pessoa que ocupa uma posição fixa, alerta dia e noite” (p. 9), sendo utilizado atualmente para se referir a serviços de saúde oferecidos fora do horário normal. Já no segundo sentido, a palavra se refere a plantar. Tassinari (1999) afirma que esse sentido vem de “plantare” do latim, e representa um colocar-se a disposição diante de um organismo vivo que cresce e necessita ser cuidado.

 

Rebouças e Dutra (2010) destacam a diferença entre plantão psicológico e outros serviços psicológicos. As autoras afirmam que, diferente do que ocorre em psicoterapia, o plantão não objetiva resolver ou se aprofundar em problemas das pessoas que o procuram, mas sim usar o momento do encontro para uma compreensão do sofrimento que é trazido por quem o busca. 

 

Para Amatuzzi (1990 citado por Palmieri e Cury, 2007), o objetivo do plantão psicológico consiste em propiciar a facilitação de um processo que é do cliente e, portanto, a função do plantonista é acompanhar esse processo, e não conduzi-lo.

 

Tassinari (2003) comenta sobre o percurso feito em conjunto pelos plantonistas e pelos clientes nesse processo:

 

“O plantonista e o cliente vão juntos procurar no ‘momento-já’ as possibilidades ainda não exploradas que podem ser deflagradas a partir de uma relação calorosa, sem julgamentos, onde a escuta sensível e empática, a expressividade do plantonista e seu genuíno interesse em ajudar desempenham papel primordial” (p. 23).

 

Vale destacar que a proposta de um plantão psicológico extrapola a sua concepção inicial baseada na teoria da ACP (Abordagem Centrada na Pessoa). No Brasil existem diversos locais em que a prática do plantão psicológico é realizada e, além desta diversidade de espaços, é possível perceber também a diversidade teórica que orienta esse fazer. Como exemplos disto o estudo de Paparelli e Nogueira-Martins (2007) com um grupo de plantonistas de orientação cognitiva comportamental e psicanalítica, e o trabalho de Santos (2002) sobre o plantão em uma perspectiva gestáltica.

 

Atualmente o plantão psicológico é utilizado em diversos lugares como em clínicas-escola, escolas, hospitais, clínicas privadas, organizações etc. Sendo claramente reconhecido como uma prática psicológica da contemporaneidade. Para conhecer um pouco mais sobre o plantão psicológico, consultem as referências utilizadas nesta postagem.

 

Referências utilizadas

 

Alves, R. C. R. (2010). Vínculo terapêutico no plantão psicológico: uma discussão sob a perspectiva da análise do comportamento. Revista da 25ª Jornada de Psicologia. [on-line]. Edição 1. Disponível em: < http://revista.newtonpaiva.br/seer_3/index.php/RevistaPsicologia/index > ISSN 2177-4552.

 

Palmieri, T. H & Cury, V. E. (2007). Plantão psicológico em Hospital Geral: um estudo fenomenológico. Psicol. Reflex. Crit. [online]. vol.20, n.3, pp. 472-479. ISSN 0102-7972.

 

Rebouças, M. S. S. e Dutra, E. (2010). Plantão psicológico: uma prática clínica da contemporaneidade. Rev. abordagem gestalt. [online]. vol.16, n.1, pp. 19-28.

 

Tassinari, M. A. (1999). Plantão Psicológico Centrado na Pessoa como Promoção de Saúde no Contexto Escolar. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Disponível em: < http://www.encontroacp.psc.br/teses.htm. > 

 

Tassinari, M. A. (2003) A clínica da urgência psicológica:contribuições da abordagem Centrada na Pessoa e da Teoria do Caos. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto de Psicologia. Tese (Doutorado em Psicologia), 2003. Disponível em: < http://www.encontroacp.psc.br/teses.htm. >

 

Wood, J. K. (1999). Prefácio. In M. Mahfoud (Org.), Plantão psicológico: Novos horizontes (pp. 7-9). São Paulo, SP: Companhia Ilimitada.