Neste texto você conhecerá as principais Terapias para o Tratamento do Alcoolismo. Entre elas, a forma de tratamento dos Alcoólicos Anônimos, a Terapia Breve, a Terapia Motivacional e a Terapia Cognitivo-Comportamental.

O surgimento dos Alcoólicos Anônimos

Os Alcoólicos Anônimos (AA) foram fundados por dois alcoólicos em 1935, nos Estados Unidos, na cidade de Akron, Ohio, durante uma conversa entre um corretor da Bolsa de Nova Iorque e uma medico de Akron. Ambos se tornaram fundadores da organização baseando-se na teoria de que somente um alcoólico poderia ajudar outro alcoólico a atingir a recuperação ao evitar o primeiro gole, de acordo com os 12 passos (Pena-Alfaro, 1993).

Curso Dependência de Álcool: Como Lidar?

Desde aquele ano, estima-se que quase 2 milhões de pessoas já se recuperaram através deste método, que está estabelecido em mais de 136 países. O AA se define como uma irmandade mundial de homens e mulheres alcoólicos, unidos a fim de resolver seus problemas comuns e ajudar seus irmãos sofredores, na recuperação daquela velha e desconcertante enfermidade do alcoolismo (Pena-Alfaro, 1993).

A idéia de que o alcoolismo é uma doença está fundamentada no tratamento do AA. Segundo esta instituição esta ênfase no conceito de doença permite com que a aceitação seja atingida mais facilmente, diminuindo o estigma social e o preconceito de que este problema era de ordem moral ou um vício (Pena-Alfaro, 1993).

Por outro lado, os Alcoólicos Anônimos não se interessam em buscar a etiologia de tal doença, apenas alegam que se trata de um fator orgânico predominantemente, pois quem toma o primeiro gole não consegue parar de beber até perder o controle (Pena-Alfaro, 1993).

Em virtude disso, a proposta deste tratamento consiste em evitar este primeiro gole, assim como reconhecer a dependência e renunciar ao seu uso. Para tanto, o sujeito deve renunciar à bebida por um período de 24 horas, sendo este o objetivo máximo a fim de manter a sobriedade (Pena-Alfaro, 1993).

Porém, mesmo após longos anos de abstinência os indivíduos se reconhecem como alcoólicos, já que o alcoolismo não tem cura, e a única saída é abster-se de beber (Pena-Alfaro, 1993).

Este programa insiste que antes do primeiro gole o alcoólico ainda tem controle da situação, que é perdido após o primeiro.

O alcoólico é definido como aquele que tem problemas de bebida, ou seja, em quem os resultados do beber ocasionam problemas: problemas econômicos, conflitos conjugais e familiares, transtornos de conduta, violência, ciúme, acidentes de transito. Se frequentemente ocorre qualquer desses casos ou ainda outros, certamente que as conseqüências da bebida não são boas e estão arruinando a vida do sujeito. (Pena-Alfaro, 1993).

Para atingir a meta de não beber, foram elaborados os doze passos, que são descritos a seguir (AAWS apud Resende, 2003):

1) Admitimos que éramos impotentes perante o álcool, que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.

2) Viemos a acreditar que um poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos a sanidade.

3) Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que o concebíamos.

4) Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.

5) Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano a natureza exata das nossas faltas.

6) Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.

7) Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.

8- Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.

9) Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudica-las ou a outrem.

10) Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente.

11) Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de sua vontade em relação a nós e forças para realizar essa vontade.

12) Tanto experimentado um despertar espiritual graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólicos e praticar estes princípios em todas as atividades.

As doze tradições sucintamente consistem em: colocar o bem-estar do grupo em primeiro lugar; os lideres são servidores de confiança, autonomia e auto-suficiência dos grupos; não sancionar, financiar ou emprestar o nome de A.A; não profissionalismo, relações com o público baseando-se na atração em vez da promoção, anonimato e colocar os princípios acima das personalidades.

Existem outros dois grupos que se relacionam com o A.A. Estes são o AL-ANON E AL-TEEN, o primeiro para familiares de alcoolistas e o segundo para os filhos destes.

Terapia Breve

De modo geral, as intervenções breves podem ser classificadas em dois grandes grupos: simples aconselhamentos e tratamentos breves (Ramos, 1997).

O simples aconselhamento envolve a prescrição da abstinência ou redução do consumo, sem a instrução de regras ou diretrizes para alcançar estes objetivos. O aconselhamento parece ser mais comumente empregado naquelas situações em que as pessoas não gravemente dependentes são identificadas através de exames médicos periódicos ou por outras razões que não o uso de álcool ou droga.

Já os tratamentos breves envolvem procedimentos de ensino de métodos de auto-controle para atingir objetivos de abstinência ou moderação. Eles são mais indicados nos casos em que existe uma expectativa ou uma avaliação por parte do paciente sobre a necessidade de alguma ajuda externa maior.

Métodos de auto-controle em geral envolvem procedimentos bem delineados como estabelecimento de metas, automortificação do consumo, identificação de situações de risco e desenvolvimento de estratégias para lidar com essas situações (Sanchez-Craig apud Ramos, 1997).

A introdução do conceito de graus de dependência defendida em 1976 por Edward, juntamente com Gross, possibilitou uma nova visão na área de dependência. A partir dessa visão, o alcoolismo não é mais visto como uma condição cujo diagnostico está finalizado simplesmente pela conclusão de sua presença ou ausência, mas que existe sutileza nos indicativos de sua presença e que, quando ela é detectada claramente, pode ser encontrada em diferentes graus (Ramos, 1997).

Essa forma de pensar gerou uma tendência para deslocar esforços do tratamento para além da preocupação estreita com dependência, objetivando assim agir sobre um numero maior de casos, em estágios menos avançados do problema, contribuindo para o delineamento de formas de tratamento com forte ênfase em prevenção (Sanchez-Craig apud Ramos, 1997).

Existem vários modelos de terapias breves concebidos especificamente para a abordagem dos problemas relacionados ao uso de álcool e drogas. A grande maioria dos modelos possui características básicas semelhantes: são intervenções limitadas no tempo, têm como foco a redução do consumo e dos problemas associados e são dirigidas primariamente a não-dependentes, ou os assim chamados “bebedores-problema”.

Seus procedimentos clínicos incluem sempre avaliação inicial e feedback direto, estabelecimento e contratação de metas, técnicas de modificação comportamental e o uso de material escrito como forma de monitorizar o comportamento e melhorar o processo cognitivo de auto-observação e mudança (Sanchez-Craig apud Ramos, 1997).

Vários modelos de intervenção breve foram analisados, de modo que seis elementos comuns parecem ser os elementos responsáveis pela efetividade desta intervenção: feedback, responsabilidade, estabelecimento de metas, estabelecimento de estratégias, auto-eficácia e empatia (Miller e Sanchez apud Ramos, 1997).

O feedback consiste numa avaliação inicial, abrangente e estruturada, através da qual o paciente é colocado a par de seu estado atual, nos níveis físico, psicológico e social.

A responsabilidade é constantemente trazida à tona nesta intervenção, ou seja, o terapeuta indica que uma mudança efetiva somente pode ocorrer a partir da decisão do próprio paciente.

O estabelecimento de metas diz respeito à colocação de pontos objetivos a serem atingidos pelo paciente, de modo que o terapeuta indica recomendações para que ele realize alguma mudança em seu padrão de comportamento prejudicial de consumo. A meta é, então, um meio para se alcançar a solução dos problemas relacionados ao consumo e não um fim em si mesmo.

Auto-eficácia pode ser definida como otimismo ou esperança. É um conceito que foi inicialmente definido por Bandura (Bandura apud Ramos, 1977) e que significa a crença que cada um de nós tem na própria capacidade de executar com sucesso uma determinada tarefa.

Empatia consiste nas habilidades interpessoais do terapeuta, de modo que este possua determinadas características que são determinantes no sucesso da intervenção, causando menores níveis de resistência e negação e um padrão de mudanças no comportamento mais estável no tempo e, portanto, mais duradouro.

As técnicas de terapia breve apresentam um grande potencial de resposta a questões atuais, apontadas como sede das mudanças que vêm ocorrendo no terreno dos tratamentos. Sumarizando, pode-se dizer que alguns fatores explicam esta afirmativa. Já que elas partem de uma conceituação teórica, geralmente de orientação cognitivo-comportamental, que gera abordagens práticas de resultados mais rápidos e evidentes.

Por outro lado, se propõe a atuar em nível secundário de prevenção, oferecendo programas de tratamento que são atraentes para pessoas que já apresentaram problemas, mas que não estão comprometidas a ponto de aceitarem ou mesmo terem indicação de hospitalização.

E ainda, elas trabalham com procedimentos técnicos bem delineados, o que permite estudos mais precisos de sua efetividade, dessa maneira tem sido demonstrado persistentemente que os resultados não são inferiores aos obtidos com tratamentos mais intensivos e custos, como as internações prolongadas. De forma que apresentam uma relação custo e benefício muito favorável, fator de extrema importância em vista da escassez de recursos materiais dos sistemas de saúde (Ramos, 1997).

Terapia Motivacional

A terapia motivacional se baseia em uma forma de aconselhamento que procura ser direto e se centra no sujeito. Tem por objetivo mudar o comportamento mal adaptativo, procurando fazer com que o paciente possa superar sua ambivalência com relação ao álcool (Miller; Rollnick, apud Resende, 2003).

Esta terapia possui técnicas de outras abordagens, como por exemplo, terapia centrada no cliente, terapia sistêmica, terapia cognitiva, psicologia social de persuasão, além da psicoterapia breve. Tais semelhanças e apropriações não a faz semelhante a estas, mas esta terapia possui características peculiares e enfoque que a diferencia das demais.

Além disso, o papel do terapeuta consiste em possibilitar ao paciente encontrar de forma critica um espaço natural para que eles possam mudar de comportamento (Jungerman; Laranjeira apud Resende, 2003).

A terapia motivacional possui dois conceitos fundamentais. Um é o de ambivalência, que em se tratando de dependência de drogas seria o conflito psicológico que o paciente vive entre continuar se drogando e parar de se drogar. A ambivalência também é nomeada como motivação flutuante (Resende, 2003).

O outro conceito é intitulado prontidão de mudança, tendo por base o modelo de “Estágios de Mudança”: Pré-comtemplação, Contemplação, Preparação, Ação, Manutenção e Recaída (Resende, 2003).

Além disso, existem cinco estratégias básicas na técnica da terapia motivacional que são: expressar empatia (escuta técnica reflexiva), desenvolver discrepância (evidenciar a distancia entre onde o cliente está e onde ele gostaria de estar), evitar discussões (elas suscitam defesas e resistências), fluir com a resistência (saber reconhecer o momento do cliente) e estimular a auto-eficácia (crença da própria pessoa na sua habilidade de executar uma tarefa) (Resende, 2003).

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Referências Bibliográficas

DSM-IV – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, trad. Dayse Batista; – 4° ed. – Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.

OLIVEIRA, M. S. A eficácia da Intervenção Motivacional em Dependentes do Álcool, (Ed.), Manual de Psicofarmacologia Clínica. Rio de Janeiro: Medsi Editora Médica e Cientifica Ltda, 2000.

PENA-AFARO, A. A. Alcoolismo: os seguidores de Baco. São Paulo: Mercuryo, 1993.

RAMOS, S. P. Alcoolismo hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987.

SILVA, C.J.; SERRA, A. M., Terapias Cognitiva e Cognitivo-Comportamental em dependência química. Rev. Bras. Psiquiatr. vol.26 suppl.1 São Paulo May 2004