Uma grande dificuldade para a psicologia é que muitos comportamentos não são possíveis de serem observados diretamente. Pense na cena: o psicólogo está em seu consultório e o paciente está calado. Como podemos saber o que se passa? Como poderemos saber o que o paciente está sentindo ou pensando? 


Este problema foi solucionado na psicologia comportamental através do conceito de evento privado. O evento privado é aquele que ocorre na presença de um indivíduo em particular. 


Neste texto, você vai aprender o que é evento privado e evento interno. Além disso, você vai saber como a psicologia pode ser útil para conhecermos a nós mesmos e o comportamento dos outros. Você sabe o que a psicologia pode fazer por você?


Na maioria das vezes, o evento privado é um evento interno, por isto é comum que haja confusão entre a ideia de evento interno e evento privado. O evento interno é um evento que está disponível apenas para a própria pessoa (por exemplo, uma sensação corporal como o “frio na barriga”), enquanto o evento privado pode até ser externo, por exemplo, quando estamos sós e falamos algo em voz alta. 


Se nós podemos perceber o que acontece dentro do nosso corpo, conhecer de forma segura os nossos próprios eventos internos, não podemos conhecer diretamente os eventos internos das outras pessoas. Com isto, surge a pergunta: como é possível ter acesso aos eventos privados de outros? Como podemos conhecer estes eventos e entender melhor o comportamento alheio? 


A melhor forma talvez seja perguntar para o outro qual é o estímulo interno que ele está sentindo. No caso das relações amorosas, sabemos da importância do diálogo nos relacionamentos


Para os psicólogos e psicólogas, o que o paciente diz (e deixa de dizer) também é extremamente importante. Por isso, pedimos sempre que o paciente relate verbalmente sobre a sua experiência. 


A razão é simples, os relatos verbais de auto-observação e auto-descrição expõe os eventos internos. Em termos mais simples, quando a pessoa conta sobre os seus eventos internos (sentimentos, sensações, pensamentos) ela está se abrindo, se expondo – e com isso, o psicólogo poderá ajudar. 


Mas o relato verbal, o que o indivíduo conta ou diz, não vai substituir o próprio evento interno. Ou seja, o evento interno é o evento interno e a comunicação do evento interno é uma outra coisa. A comunicação do evento interno, porém, é sempre de extrema importância. 


Quando nós nos comunicamos, falamos e escrevemos em uma determinada língua. As vezes, nos esquecemos deste fato. Este texto está escrito em português, certo? Ao pensarmos em português, estamos pensando “dentro” de uma língua, que tem sua história e forma particular. Por exemplo, o português é muito diferente do japonês e do árabe. 


O que quero dizer é que o comportamento verbal é um comportamento que aprendemos na nossa história de vida. Assim como nascemos em uma cultura cuja língua é o português, poderíamos ter nascido em uma cultura árabe. O modo como iríamos expressar os nossos eventos internos seria totalmente diferente. 


Deste modo, o comportamento verbal é fruto de uma longa aprendizagem. Como podemos saber a diferença entre a saudade e a lembrança? A adrenalina e o medo? A esperança e a ansiedade? 


Com o tempo, vamos aprendendo a distinguir estas palavras e os eventos internos sobre as quais elas dizem. Em termos técnicos, através de um processo de reforçamento diferencial aprendemos certas respostas verbais (tatos) apresentadas a estímulos internos. 


O que isto quer dizer? Pense em uma criança com um rosto triste. Nós vamos conversar com ela e perguntar: – “Você está triste? Porque você está com esta tristeza?” 




A criança vai estar aprendendo que o que ela está sentindo internamente é tristeza. É tristeza e não medo, é tristeza e não dor. Este processo é o que chamamos de reforçamento diferencial para a aquisição de um comportamento verbal. 


Desta forma, o comportamento verbal é aprendido. A cultura ensina as crianças a dizer sobre os próprios eventos internos. Porém, algumas pessoas não passam por este processo e acabam sem saber direito o que sentem. 


Nestes casos, a psicologia também é um instrumento para a percepção e compreensão dos eventos internos. À medida em que vamos conhecendo o nosso próprio mundo, podemos alterá-lo para o nosso benefício. 


Quando o paciente não sabe dizer o que sente, a psicologia também conta com outras técnicas expressivas, como desenhos, expressões corporais, teatro, arte-terapia, entre outros.