Uma pessoa muito especial me fez uma pergunta (por email – psicologiamsn@gmail.com) sobre a questão da Vocação.
Hoje em dia, inspirados pelo materialismo, não se fala mais em vocação. Os profissionais da psicologia preferem falar em Orientação Profissional, ao invés de Orientação Vocacional.
Mas o termo Orientação Vocacional era utilizado até algumas décadas atrás. Ele traz em si a ideia de que cada um de nós veio ao mundo com uma vocação, chamado para realizar algo que só cabe a cada um. Minha vocação é a minha vocação.
Como não se pode comprovar a tese de que nascemos com uma vocação, a psicologia atualmente silencia sobre isso. Usa então Orientação Profissional. Orienta para que cada um encontre uma profissão adequada ao seu perfil, à sua personalidade.
Se você apresentar (em testes e entrevistas) certos traços de personalidade, você é orientado a tomar certo rumo. A ideia, em essência, não muda muito com relação a ideia de vocação, não é mesmo? Por ser como sou tenho que seguir o caminho que devo seguir.
Para responder a pergunta de minha querida leitora, utilizo dois textos: o Mito de Er, de Platão e a interpretação dada a ele por James Hillman, um importante psicólogo e analista junguiano – no livro O Código do Ser, da Editora Objetiva.
Não concordo q a ídeia de vocação não mude muito pela escolha ser feita de acordo com um determinado perfil.
Primeiro: Perfil é mutável de acordo com a experiência vivida. O que vc tende a considerar hj não necessariamente tende a ser o que será considerado amanhã;
Segundo: o constructo "vocação" indica que a pessoa tende a uma atividade mais que pra outra e que isto não é mutável. Faz-me relembrar a "síndrome da gabriela" – “eu nasci assim, eu cresci assim, eu vivi assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim, Gabriela”.
Acredito que as escolhas tenham a ver com as potencialidades sim, mas que não estão ligados a uma questão imutável (nascimento) ou mística, mas de possibilidades do sujeito. Por exemplo, dificilmente na década de 70 alguem diria, levando em consideração esta corrente da vocação, que um garoto de uma favela carioca teria vocação pra ser bailarino. E, no entanto, com os tantos projetos atuais do genero, essa possibilidade existe.
Outro exemplo são os projetos olimipicos de países emergentes como a China, que produzem metodologicamente lotes de campeões. Muitos destes esportistas acreditavam suas vocações estavam em outras atividades, tendo alguns até bons desempenhos nestas atividades anteriores.
Enfim, esta discussão é densa e longa e segue a minha opinião. Vejo sim uma diferença muito grande entre o profissional utilizado atualmente e o vocacional usado em outrora.
Abraço
Olá Raiuguet!
Gostei muito do seu comentário.
Esta é uma outra perspectiva para a Orientação Profissional.
O que quis salientar com este texto de James Hillman é uma ideia ainda mais antiga que a ideia de perfil (seja ele mutável ou imutável). A ideia de que viríamos a este mundo com um determinado chamado ou destino.
Posteriormente, no romantismo alemão, ao menos no campo da arte, falávamos de gênio. A pessoa já nascia com o seu gênio ou daimon (usando a terminologia dos gregos).
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Para a questão da mudança e permanência da identidade, recomendo este texto:
https://psicologiamsn20220322.mystagingwebsite.com/2010/05/identidade.html
E a minha dissertação de mestrado:
http://www.ufsj.edu.br/portal2-repositorio/File/mestletras/DISSERTACOES_2/um_manuscrito_de_Joyce.pdf