Você já deve ter escutado que vivemos em um mundo de aparências. Isso é verdade, pois para este mundo viemos com a habilidade de ver cores e formas, de tocar texturas e volumes, de ouvir melodias e frases, de degustar gostos e amargores. Todos os 5 sentidos lidam com o que aparece, ou seja, com as aparências.

E até um pensamento ou sentimento pode ser considerado uma aparência, como algo que aparece e desaparece como uma bolha de sabão ou uma onda no mar.

Do mesmo modo que este mundo de desejos e objetos aparece para nós, aparecemos para o mundo. Como? Depende de quem nos percebe. O meu gato, que não sabe que é um gato, me percebe diferente de minha mãe.

Imagine um pavão, com suas longas e coloridas penas. Podemos pensar que ele foi equipado com aquela beleza exuberante para atrair sua parceira, com fins reprodutivos.

E podemos pensar ainda mais: a única finalidade da beleza é a própria beleza. Neste caso a forma serve para a própria forma e a aparência passa a ter sentido em si mesma. Afinal, o que existe para além da forma que não seja também uma forma?

Mas uma forma só toma sentido por sua relação com outras formas. Uma pessoa bonita é bonita em comparação com as demais. Se as demais fossem mais bonitas, esta pessoa seria feia.

Há ainda algo incrível quando falamos de aparências, que é a classificação – mental – que fazemos delas. Jorge Luis Borges no ensaio (O idioma analítico de John Wilkins) diz de uma certa enciclopédia chinesa, na qual se lê que os animais do mundo se dividem em:

a) pertencentes ao imperador;

b) embalsamados;

c) domesticados;

d) leitões;

e) sereias;

f) fabulosos,

g) cães em liberdade;

h) incluídos na presente classificação;

i) que se agitam como loucos;

j) inumeráveis;

k) desenhados com um pincel muito fino de pêlo de camelo,

l) et cetera;

m) que acabam de quebrar o vaso;

n) que de longe parecem moscas.
Toda classificação é arbitrária, toda forma poderia ser classificada de outro modo. Neste mundo de aparências, o que não aparece e nem deixa de não aparecer?
FELIPE DE SOUZA
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