Gostaria de escrever hoje um pouco sobre a questão da vaidade, trazendo a vocês mais questões do que respostas. Ficaria muito grato se vocês me ajudassem a pensar, respondendo-me através de emails ou comentários no blog. 


Há um trecho do Eclesiastes, um livro da Bíblia atribuído a Salomão,  onde se lê: “Vanitas vanitatum, et omnia vanitas”, (Vaidade das vaidades, tudo é vaidade). Outra tradução deste trecho em latim seria Vaidade das vaidades, e sempre a vaidade…

Abaixo transcrevo uma citação de Alfred Adler, do livro A ciência da natureza humana:


“É provável que todos os seres humanos sejam vaidosos em certo grau, mas fazer exibição de sua vaidade não é considerado prova de bom gosto. A vaidade, por isso, é com frequência tão disfarçada e dissimulada que se apresenta sob as mais variadas transformações. Há por exemplo, uma espécie de modéstia, que é em essência vaidade. Um homem pode ser tão vaidoso que nunca se importe com os juízos dos outros; outros requestam avidamente a aprovação pública e utilizam-na em seu proveito pessoal”. 


Os zen-budistas resumem toda a sua visão de mundo na seguinte frase: “Sem eu, não há problema”. Pois, para eles, tudo o que fazemos tem como objetivo proteger o eu, que, em ultima essência, não pode ser encontrado em nenhuma de suas partes, seja no corpo, seja na alma. 


Em outras palavras, vamos criando a nossa personalidade, nossa personagem ou nosso eu – complexo do eu – e a partir de então, desejamos manter uma imagem deste eu. Por isso somos vaidosos, ambiciosos, orgulhosos. Por isso, tudo é vaidade. A frase “Vaidade das vaidades” (embora retirada da Bíblia) se casa muito bem com a visão de mundo zen. 

O que você faz que não é para manter sua imagem de eu? O que em você que não é vaidade? Mesmo a modéstia pode ser vaidade, como alerta Adler, e mesmo a caridade pode ser, no fundo, um sintoma de vaidade. 

Omnia vanitas… sempre vaidade…


FELIPE DE SOUZA