Uma pessoa muito especial me pediu que escrevesse sobre dependência química. A chave para sua compreensão é a palavra dependência. Sigo aqui o pensamento de C. G. Jung, psicólogo suíço, quando diz: “Toda forma de vício é ruim, não importa se o narcótico seja álcool, morfina ou idealismo”. Esta é uma das formas de entendermos o que acontece na dependência química. Ao longo de nossa série de textos também falaremos da compreensão da psiquiatria e demais linhas da psicologia.

Podemos aumentar em muito a lista das coisas as quais causam dependência em nossa sociedade. Mas, ao invés de listar, será mais interessante pensarmos na origem do problema.

Os hindus dizem que todo sofrimento é avidya, ou seja, todo sofrimento é ignorância. A psicologia ocidental dirá em outros termos: os sofrimentos – os sintomas – são de origem inconsciente e são provocados pelo desconhecimento de nós mesmos.

Conhecem o dito popular de que “pimenta nos olhos dos outros é refresco”? Já pensaram porque? Não é simplesmente por egoísmo, como quem diz: o sofrimento do outro é do outro e pronto. O sentido deste dito popular é que, quando ouvimos alguém contar o seu problema, apenas ouvimos, não sentimos o sofrimento da pessoa. E o mais importante (se pensarmos bem): a pessoa que sofre, sofre, em geral, por um pensamento, por uma ideia, por um idealismo ou por uma crença.

Por exemplo, uma amiga minha ficou semanas chateada porque disseram que o cabelo dela estava feio. Falando assim, não parece bobagem? Mas minha amiga diria: é que não foi com você! Mas qual é o sofrimento dela? Resposta: um pensamento, uma palavra que foi dita por alguém.

Voltando à questão da dependência, cito abaixo um trecho do livro “O poder do Agora”, de Eckhart Tolle:

“Para a maioria dos seres humanos, a única maneira de descansar a mente é ocasionalmente reverter a um nível de consciência abaixo do pensamento. As pessoas fazem isso todas as noites, durante o sono. Mas, até certo ponto, isso também acontece através do sexo, da bebida e de outras drogas que suprimem a atividade excessiva da mente.

Se não fosse pela bebida, por tranquilizantes e antidepressivos, bem como pelas drogas ilegais, todas consumidas em grandes quantidades, a insanidade das mentes humanas seria até mais óbvia do que já é.

Acredito que, impedida de usar drogas, uma grande parte da população se transformaria num perigo para ela mesma e para os outros. Essas drogas mantêm as pessoas paralisadas dentro da disfunção. Sua ampla utilização apenas retarda a ruptura das velhas estruturas mentais e o aparecimento de uma consciência superior.

Enquanto os usuários individuais puderem obter algum alívio da tortura diária a eles infligida por suas próprias mentes, estarão sendo impedidos de gerar uma presença consciente o bastante para se elevarem sobre o pensamento e assim encontrarem a verdadeira libertação”.

Embora longa, esta citação apresenta alguns pontos que são muito importantes:

1) As drogas fazem, infelizmente, parte da sociedade enlouquecida que vivemos. Em verdade, elas cumprem uma função: manter as pessoas no estado de “insanidade” promovido pela própria sociedade.

2) As drogas, assim como outras formas de dependência, são um alívio ilusório para o sofrimento mental. Alívio ilusório porque o sofrimento é ignorância.

3) O sofrimento deve ser combatido com consciência, mas não com a geração de mais sofrimento – a consequência inevitável das drogas.

O melhor método de cura para a dependência química é o utilizado pelos Alcoólatras Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA), os 12 passos.

Neles, temos 2 passos que acho importante frisar:

1) A consciência de que há um problema.

2) A crença em um Poder Superior, que pode ser pensado como o Self, a totalidade da psique, que engloba tanto a psique consciente como inconsciente.

Além disso há o compromisso de não se drogar por um dia. Este último é, em outras palavras, o que Eckhart Tolle chama O Poder do Agora. Afinal, não é possível parar com a dependência amanhã, só hoje, agora. E só por hoje.

Para saber mais: O Poder do Agora. Eckhart Tolle. Editora Sextante.

FELIPE DE SOUZA