“Os subtipos de esquizofrenia do DSM-IV foram eliminados devido a sua estabilidade diagnóstica limitada, baixa confiabilidade e pouca validade. Em vez disso, é inclusa uma abordagem dimensional para classificar a gravidade dos sintomas centrais da esquizofrenia”
Olá amigos!
A pedido da nossa querida leitora Beth, escrevo hoje sobre esquizofrenia paranoide. Segundo o DSM-5, “o espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos inclui esquizofrenia, outros transtornos psicóticos e transtorno (da personalidade) esquizotípica. Esses transtornos são definidos por anormalidades em um ou mais dos cinco domínios a seguir: delírios, alucinações, pensamento (discurso) desorganizado, comportamento motor grosseiramente desorganizado ou anormal (incluindo catatonia) e sintomas negativos” (DSM-5, p. 87).
Nesta nova versão do DSM-5 não encontramos um diagnóstico chamado de Esquizofrenia Paranoide. Encontramos, entretanto, o Transtorno Delirante, tipo persecutório. Vejamos primeiro este Transtorno no DSM-5 e falemos mais abaixo sobre a definição anterior do DSM-IV e porque houve a mudança.
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Transtorno Delirante
A. A presença de um delírio (ou mais) com duração de um mês ou mais.
B. O critério A para esquizofrenia foi atendido. Nota: alucinações, quando presentes, não são proeminentes e têm relação com o tema do delírio (p. ex, a sensação de estar infestado de insetos associada a delírios de infestação).
C. Exceto pelo impacto do(s) delírio(s) ou de seus desdobramentos, o funcionamento não está acentuadamente prejudicado e o comportamento não é claramente bizarro ou esquisito.
D. Se episódios maníacos ou depressivos ocorreram, eles foram breves em comparação com a duração dos períodos delirantes.
E. A perturbação não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica, não sendo mais bem explicada por outro transtorno mental, como transtorno dismórfico corporal ou transtorno obsessivo-compulsivo.
Determinar o subtipo:
Tipo persecutório: Esse subtipo aplica-se quando o tema central do delírio envolve a crença de que o próprio indivíduo está sendo vítima de conspiração, enganado, espionado, perseguido, envenenado ou drogado, difamado maliciosamente, assediado ou obstruído na busca de objetivos de longo prazo. (DSM-5, p. 90)
Além deste subtipo, encontramos os subtipos: érotomaníàco, grandioso, ciumento, somático, misto, não especificado.
“No delírio persecutório… pequenas descortesias podem ser exageradas, tornando-se foco de um sistema delirante. O indivíduo afetado pode se envolver em tentativas repetidas de conseguir satisfação por alguma ação legal ou legislativa. Pessoas com delírios persecutórios costuma ser ressentidas e enraivecidas, podendo até recorrer à violência contra aqueles que, em sua opinião, lhe causam danos” (DSM-5, p. 92)
Esquizofrenia Paranoide
Na versão anterior do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da APA (Associação Psiquiátrica Americana), o DSM-4, ainda encontramos a definição de esquizofrenia paranoide.
F20 – ESQUIZOFRENIA
A. Sintomas Característicos: Pelo menos dois dos seguintes, cada um presente por um espaço significativo de tempo durante um período de um mês (ou menos, caso tratado com êxito):
(1) delírios
(2) alucinações
(3) fala desorganizada (ex., descarrilhamento freqüente ou incoerência)
(4) comportamento totalmente desorganizado ou catatônico
(5) sintomas negativos, ou seja, embotamento afetivo, alogia ou avolição
(Nota: apenas um sintoma A é necessário se os delírios são bizarros ou as alucinações consistem de uma voz mantendo um comentário sobre o comportamento ou pensamentos da pessoa ou duas ou mais vozes conversando entre si).
B. Disfunção Ocupacional/Social: Durante um espaço significativo de tempo, desde o início do distúrbio, uma ou mais áreas principais de funcionamento como trabalho, relações interpessoais ou auto-cuidado encontram-se significativamente abaixo do nível atingido antes do início (ou quando o início ocorre na infância ou na adolescência, fracasso em atingir o nível esperado de desempenho interpessoal, acadêmico ou ocupacional).
C. Duração: Sinais contínuos do distúrbio persistem no mínimo durante seis meses. Este período de seis meses deve incluir pelo menos um mês com os sintomas que satisfazem o critério A (ou seja, sintomas da fase ativa) e podem incluir períodos prodrômicos e/ou residuais quando o critério A não é plenamente satisfeito. Durante esses períodos, os sinais do distúrbio podem ser manifestados por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas listados no critério A presentes em uma forma atenuada (ex., a duração total dos períodos ativo e residual).
D. Distúrbio esquizoafetivo e Distúrbio de Humor com Características Psicóticas foram descartados devido a: (1) nenhum episódio significativo depressivo ou maníaco ocorreu simultaneamente com os sintomas da fase ativa; ou (2) se episódios de humor ocorreram durante o episódio psicótico, sua duração total foi breve em relação à duração do episódio psicótico (ou seja, à duração total dos períodos ativo e residual).
E. Exclusão de Substância/Condição clínica geral: O distúrbio não é devido a efeitos fisiológicos diretos de uma substância (ex., uma droga de abuso, uma medicação) ou uma condição clínica geral.
F. Relacionamento a um Distúrbio Global do Desenvolvimento: Se há uma história de Distúrbio Autístico ou um Distúrbio Global do Desenvolvimento, o diagnóstico adicional de Esquizofrenia é estabelecido apenas se delírios ou alucinações proeminentes também encontram-se presentes durante pelo menos um mês (ou menos, caso o tratamento tenha êxito).
Tipo Paranóide
Um tipo de esquizofrenia no qual os critérios a seguir são preenchidos:
A. Preocupação com um ou mais delírios ou alucinações auditivas freqüentes.
B. Nenhum dos seguintes é proeminente: fala desorganizada, comportamento desorganizado ou catatônico ou afeto embotado ou inapropriado.
Por que esquizofrenia paranoide foi retirado do DSM-5?
O tipo ou subtipo paranoide, dentro da esquizofrenia (junto dos outros, desorganizado, catatônico, indiferenciado, residual) foi modificado na nova versão publicada em 2013 pela inconsistência diferencial.
“Os subtipos de esquizofrenia do DSM-IV foram eliminados devido a sua estabilidade diagnóstica limitada, baixa confiabilidade e pouca validade. Em vez disso, é inclusa uma abordagem dimensional para classificar a gravidade dos sintomas centrais da esquizofrenia na Seção III do DSM-5 para capturar a heterogeneidade no tipo de sintoma e gravidade que se manifesta entre os indivíduos com transtornos psicóticos” (DSM-5, p. 810).
Portanto, os subtipos foram retirados como estavam no DSM-IV, o que exclui portanto a designação esquizofrenia paranoide como um diagnóstico possível. O mais próximo, dada as características típicas da paranoia, me parece ser o transtorno delirante tipo persecutório. Esta similitude nos parece correta devido à definição clássica de paranoia.
O que é paranoia?
Segundo o National Institute of Mental Health:
Paranóia é um termo utilizado por especialistas em saúde metal para descrever desconfiança ou suspeita altamente exagerada ou injustificada. A palavra é freqüentemente utilizada na conversação cotidiana, em geral em momentos de rancor e de forma incorreta. Simples desconfiança não é paranóia – especialmente se fundamentada em experiência passada ou em expectativas baseadas na experiência alheia.
A paranóia pode ser discreta e a pessoa afetada ser razoavelmente bem ajustada socialmente ou pode ser tão grave que o indivíduo se tora incapacitado. Às vezes o diagnóstico é difícil, já que muitos distúrbios psiquiátricos são acompanhados de alguma característica paranóide. As paranóias podem ser classificadas em três categorias principais: distúrbio paranóide de personalidade, distúrbio delirante paranóide e esquizofrenia paranóide.
Dúvidas, sugestões, comentários, por favor, escrevam abaixo.
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Adorei os comentários sobre esquizofrenia paranoide, que encaixa com o problema que estou vivenciando com o meu filho thiago, que há muitos anos ele tem esquizofrenia, as vezes é internado por não sabermos lidar com isso, ás vezes ele fica violento, alem de ter alucinações, falar coisas sem nexos etc. Mas o que me preocupa é que a pessoa fica sem fazer nada, não quer nada, so fuma muito, toma as medicações etc. Tem uma coisa que ele gosta muito é cantar as musicas italianas…mas não esta disposto a aprender a tocar violão ou outro instrumento, por exemplo. Ultimamente ele tem feito o numero 1e 2 na roupa…parece que ele esta regredindo…Por favor me indique alguma solução.
Obrigado!
Tenho um aluno de dez anos de idade com diagnóstico de esquisofrenia paranoide. No momento está afastado da escola devido ao seu comportamento que coloca todos em risco. A família não dá continuidade ao tratamento. Me preocupo muito pois o tempo está passando e esse aluno está com seus direitos violados.segundo a mãe nosso município não tem internação para casos como o dele. Já esteve internado em um hospital psiquiátrico mas não teve condições de permanecer por motivos que eu não tive acesso. Gostaria de mais informações. Obrigada
Olá Felipe, ter pensamentos, como diálogos internos(auditivos), é normal?
Explico, minha mente, eu, vivo traçando diálogos que assumem outra identidade, mas é sempre EU(imaginando a mim mesmo) dialogando com outro personagem, que pode ser alguém que conheço ou não(mas que sei que sou eu mesmo imaginando ser outra pessoa, como se eu assumisse os pensamentos de outra pessoa). Há sempre uma discussão, onde o EU sempre vence, e sempre num sistema dialético no processo de tese, antítese e síntese.
Acho que a minha mente está tão habituada a fazer esse processo que se eu não for cuidadoso e buscar estar consciente no que estou pensando, me confundo nesses personagens que eu mesmo crio e por instantes, sem querer, acabo assumindo essa outra personalidade como se fosse o EU, e esqueço de mim mesmo(o EU real) (não sei se você entendeu o que quis dizer…) e nas vezes que tomo consciência disso acabo me assustando pois falar de mim, da minha mente e do EU, faz com que eu sinta que não tenho controle sobre a minha personalidade, uma sensação que entendo como despersonalização.
Eu não sei se isso é normal e me preocupa que eu esteja desenvolvendo algum transtorno de personalidade. Andei lendo a respeito de esquizofrenia na internet e algumas coisas me deixam preocupado como por exemplo o fato de muitas pessoas, a maioria, meus vizinhos, não intenderem o que eu falo e me chamarem de louco(porém, ao meu ver, num tom de brincadeira).
O que me deixa preocupado, é se meu pensamendo é tão desorganizado que eu não percebo, e essas pessoas me chamam de louco por que estou sendo incoerente no que digo. Mas claro, eu não falo sozinho, é sempre que falo com alguém, geralmente um primo meu que está fazendo tratamento psiquiátrico para síndrome do pânico, agorofobia e outros transtornos de ansiedade, inclusive atribuem a mim o fato de ele estar nessa situação porque dizem que a minha conversa só pode levar à loucura(e o fato é que só ele me entende).
Sempre levei isso tudo como brincadeira, e em meio aos que me chamam de louco alguns me acham inteligente, porém se não são inteligentes para entender o que digo, óbvio que não poderão distinguir entre inteligência e loucura e isso põe em cheque o porquê de me acharem inteligente.
Meu melhor amigo que agora já não quer mais falar comigo, foi diagnosticado com esquizofrenia. Tudo isso, somado ao fato de eu não ter uma vida social plena, apesar de eu não me importar, faz com que eu desconfie da minha sobriedade. Também não sinto que tenho boa capacidade cognitiva, e meu comportamento se enquadra nos sintomas negativos.
O que você acha, é algo preocupante ou estou fazendo uma tempestade num copo d’água?
Desde já agradeço e aguardo resposta…
Olá Mayke!
Bem, devemos pensar em um transtorno mental quando há sofrimento, para si ou para os outros. Como todos nós temos as nossas insatisfações, nem sempre o sofrimento, per se, é um critério para dizer que há um transtorno mental.
Evidentemente, não há como fazer uma avaliação por aqui. De toda forma, ser rotulado com um transtorno mental poderia dar uma certa estabilidade ou referência sobre quem ou como somos. Mas, no final das contas, e só uma palavra (que pode trazer ainda mais sofrimento para quem é assim rotulado). Portanto, o melhor é seguir em frente – se o sofrimento for tolerável – e ter a sua vida, como Mayke. (Já pensou que só existe você como você nesse mundo? Rótulos são limitações. Para os profissionais, apenas, é que são úteis.
Atenciosamente,
Felipe de Souza
Felipe, obrigado pela resposta. Sua resposta é própria de um profissional. De fato eu não estava esperando que você me dissesse que tenho problema “x” sem nem ao menos me ver, mas foi claro para o ponto que é importante no que se refere aos meus problemas, pois você como psicólogo usou as palavras certas para tranquilizar um desconhecido baseado em um depoimento.
O máximo que você pode analizar sobre mim resulta apenas do que eu escrevo aqui, mas acho que eu fui muito dramático no meu texto, porque mesmo que você me dissesse que eu tenho esquizofrenia ou qualquer outra coisa, teria pouco efeito em minha condição psicológica, pois como você mesmo esclareceu, devemos pensar em transtorno mental quando há sofrimento, e se estou sofrendo, não me afetaria mais se por acaso alguém simplesmente desse um nome ao meu problema. Mas devo ressaltar que eu tentei ser objetivo, se você me dissesse que eu deveria consultar um psicólogo, talvez eu nem me daria ao trabalho de fazer isso, mesmo assim sua opinião não perderia a importância para mim.
Apenas perguntei porque de fato eu estava fazendo uma tempestade num copo dágua mesmo, soube disso quando percebi que você se ateve ao propósito de me tranqulizar. E concordo plenamente com o que você diz, até em um dos livros dos fundadores da PNL, diz, uma coisa é você ter um problema, outra coisa é você ter um problema por ter um problema(efeito psicológico de retulações).
Se você diz( professor Felipe) que só para os profissionais que os diagnósticos ou rótulos são úteis se não sabe fique sabendo que pela lei 10216 da saúde mental obriga principalmente o psiquiatra a dar ao paciente o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento.
Sim José Elias. Uma coisa não exclui a outra. Eu disse que essas classificações são úteis do ponto de vista dos médicos e psicólogos e, claro, podem ajudar no tratamento se o paciente se informa sobre o que é melhor fazer em sua condição.
O problema é quando esta palavra – o diagnóstico – se torna um rótulo a guiar a vida da pessoa. Ou quando as pessoas ao redor não veem mais o indivíduo, só veem a doença. “O bipolar chegou” ou “a deprimida me pediu isso”, etc.
E, ainda, uma outra questão epistemológica mais profunda, é que, ao longo das décadas, vemos como diversos transtornos foram sendo excluídos, modificados, renomeados, o que indica que não há tanta consistência nessas nosologias quanto um leigo poderia supor.
Concordo que o diagnostico pode se tornar um rotulo e interferir negativamente, mas sou paciente e pessoalmente nunca passei por isso.
Na sociedade há coisa pior como o estigma e há exemplos de rótulos aviltantes. por exemplo basta pessoas mal intencionadas saber que uma pessoa foi a um profissional de saúde mental que já e rotulada como maluco, insano (isso eu já tive experiência) até eu já vi pessoas que eu estudei em aulas de curso técnico dizendo que como a professora era psicóloga e dizendo que todo psicólogo tem um pino frouxo ( deixo bem claro que não concordo com isso) Eu tive um colega que passou em ótima colocação em concurso publico e na hora do exame médico mentiu que não tinha doença grave entrou na experiência do trabalho e surtou dentro do ambiente de serviço e perdeu o emprego.(e mesmo que ele dissesse que era esquizofrênico também nem entraria)
O estigma antecede todos os sistemas de classificação psiquiátrica. Eu mesmo fui diagnosticado com Esquizofrenia simples que é um diagnostico muito controverso e não está no DSM com este nome e se este diagnostico sumir dos manuais eu com certeza também não terei que sumir do tratamento. Há e esse dsm5 pode ser considerado a bíblia em saúde mental ,mas parece que não tem tanto crédito na praça quanto o Cid (segundo os médicos que eu conversei).
José!
Obrigado por comentar e trazer algumas das suas vivências para os nosso leitores.
Quanto ao CID e DSM, na nova versão eles (DSM-5 e Cid-11), eles estão iguais nas descrições dos transtornos.
Atenciosamente,
Felipe de Souza