Mito em grego quer dizer intriga, narrativa, história. Sabemos que as histórias são muito importantes como referências para a nossa vida. Se queremos dizer ou contar quem somos, temos que contar a nossa história. (Veja a minha dissertação de mestrado sobre este tema).

Na verdade, uma das formas de mudarmos alguns significados em nossas vidas, é justamente contar histórias – outras histórias para mudarmos a nossa história. Mesmo Platão, um dos maiores filósofos da história do mundo ocidental, considerava de forma positiva a compreensão que podemos ter a partir do mito.

De acordo com Giovanni Reale, autor especialista na obra de Platão, sabemos que “falar por mitos é um exprimir-se por imagens, o que permanece válido em vários níveis, na medida em que pensamos não só por conceitos, mas também por imagens” (Reale, 1994, p. 44).

Na psicologia junguiana, o estudo dos mitos de outros culturas (não só da cultura grega), é importante pelo seguinte motivo: encontramos, em outras tradições, histórias ou mitos semelhantes, parecidas com as nossa vida.

Um exemplo simples para podermos entender. Todos conhecem Romeu e Julieta – um casal apaixonado que encontra dificuldades para ficar junto. No caso desta história, a dificuldade é que a família de Romeu é inimiga da família de Julieta. Esta inimizade impede que eles fiquem juntos.

Pense agora nas novelas e filmes que você já viu. Quantas e quantas vezes não vemos uma história parecida? O casal se apaixona, tem tudo para dar certo, mas há um impedimento. Às vezes é a família que impede, às vezes é a condição social ou econômica, às vezes é uma outra pessoa (que ama desesperadamente um deles) e tenta impedir a felicidade do casal. De qualquer forma, o roteiro, a história e o mito são esses: um casal apaixonado e um impedimento, um impedimento sério e difícil.

Essa história que Shakespeare escreveu na peça Romeu e Julieta não foi inventada por ele. Encontramos em outras culturas histórias semelhantes. Alguns séculos antes de Shakespeare, temos por exemplo o romance de Tristão e Isolda – que é tema de uma ópera de Wagner.

Essa história do casal apaixonado com um sério impedimento é vivida por milhares de pessoas ao redor do mundo, hoje em dia e provavelmente por muitos séculos ainda. Talvez essa não seja a sua história – mas com certeza a sua história pessoal tem um paralelo.

Em outras palavras, a sua história (apesar de ser sua e apenas sua) também pode ser encontrada nos mitos antigos, em histórias e romances, em poemas e óperas. Claro, não será exatamente igual – mas será muito semelhante.

Por isso mesmo, C. G. Jung – um dos maiores psicólogos do século XX – se pergunta, aos 81 anos, qual é o meu mito dele? Será que tinha vivido o mito cristão? O mito do herói? A sua história pessoal era parecida com qual história? Com qual mito?

E a sua história? Você já encontrou histórias parecidas com a sua?

Referências Bibliográficas

Reale, Giovanni. História da Filosofia Antiga – Volume II. São Paulo: Edições Loyola, 1994